O DOLORIDO PROCESSO DE SEPARAÇÃO DE “A CAMA”.

Por Celso Sabadin.

Um casal de meia idade (ou quase idade inteira) tenta fazer amor. São tentativas rudes, por vezes desajeitadas, quando não desesperadas. Um ato cru e totalmente desglamurizado, fora do esteticismo falso que o cinema comercial nos acostumou durante todos estes anos em que se faz amor para ser visto numa tela. O ato do desejo, não consumado, rapidamente se transforma em frustração e agressividade. Tudo num plano único de 10 minutos, onde a câmera fica parada e a plateia fica inquieta.

Assim começa “A Cama”, coprodução entre Argentina, Brasil, Holanda e Alemanha sobre um tema tão perturbador quanto inevitável: a decadência. Jorge (Alejo Mango, de “A Menina Santa”) e Mabel (Sandra Sandrini, de “Novo Mundo”) formam um casal de idosos em processo de separação e perdas. Em meio ao silêncio sepulcral da casa que dividiram por décadas, eles desmontam seus móveis, seus objetos, e principalmente seus afetos. Tudo parece prestes a ruir, principalmente eles próprios, mal escorados que estão por lembranças amargas, parede úmidas e rachaduras expostas.

Atriz de cinema e TV por mais de 20 anos, Monica Lairana faz sua estreia como diretora de longas em “A Cama”. Uma estreia densa e dolorida num belo trabalho sobre amores que se foram e solidões que estão por vir.