“O EMPREGADO E O PATRÃO”, ALÉM DA LUTA DE CLASSES.

Por Celso Sabadin.

Provavelmente o título do filme sugira algo em torno das lutas de classes. Principalmente nestes tempos polarizados. Não é o caso.  “O Empregado e o Patrão” é, sim, um filme sobre um empregado e um patrão, mas não no sentido político dos confrontos sociais aos quais estamos acostumados.

Com roteiro e direção do uruguaio Manuel Nieto Zas, o longa mostra Rodrigo (Nahuel Pérez Biscayart), agricultor de soja em algum lugar da vasta fronteira entre Brasil e Uruguai. Pressionado pelo excesso de chuvas que pode arruinar a colheita, e pela dificuldade em encontrar mão-de-obra temporária, ele contrata o jovem peão local Carlos (Carlos Lacuesta) para operar o trator e a colheitadeira.

Entre as várias dificuldades, tensões e até tragédias que se estabelecem no lugar, Carlos parece mostrar uma única real preocupação em sua vida: vencer uma corrida de longa duração a cavalo, evento tradicional da região.

Coproduzido por Uruguai, Argentina e Brasil, “O Empregado e o Patrão” seduz lenta e gradativamente a atenção do espectador através de uma narrativa minimalista que evita o lugar-comum e as eventuais espetacularizações vazias que o tema poderia facilmente proporcionar. Contemplativo, usa com talento os planos abertos que potencializam a amplidão geográfica do espaço fronteiriço, ao mesmo tempo em que se apropria do silêncio dos pampas como forma de expressão criativa, obtendo assim ótimos resultados tanto na criação de clima, como na composição dos personagens.

Curiosamente, se entre o patrão e o empregado não se estabelecem os conflitos típicos que geralmente marcam tal tipo de relacionamento, o mesmo não se pode dizer da patroa e da empregada. Aqui, é o elemento feminino que se mostra como desestabilizador das relações pessoais, enquanto os  personagens masculinos resolvem suas eventuais questões com maiores habilidade e compreensão.

“O Empregado e o Patrão” estreou dia 12 de agosto.

 

15/ 8/2021