O ENCANTADOR E DESCONHECIDO MARANHÃO DE “BETÂNIA”.

Por Celso Sabadin.

Antes de mais nada, uma informação: “Betânia” não é mais um entre os vários documentários que o cinema brasileiro adora produzir sobre a cantora Maria Bethânia. Nem tem depoimento do Nelson Motta.

Ficcional, o longa traz o nome de sua personagem protagonista, interpretada por Diana Mattos. Moradora de uma pequena vila no Maranhão, Betânia é pressionada pela família a mudar-se do lugar, que está cada vez mais deserto, e sequer tem eletricidade regular. Após a morte do marido, ela aceita, ainda que a contragosto, deixar sua casa de cobertura de sapé e se instalar no povoado próximo, com mais estrutura, que também se chama Betânia.

Da mesma forma que a maioria dos brasileiros mal conhece o Brasil, Betânia também jamais tinha ido até Betânia. A metáfora do autoconhecimento é lúcida e poética.

A partir da mudança da protagonista, o filme tece uma fascinante urdidura de adoráveis personagens que exalam cativantes afetos e que encerram tamanha carga de autenticidade que fazem o público perder-se nas fronteiras entre a ficção e documental. 100% do elenco é maranhense, assim como maranhenses são os famosos lençóis, dunas e naturezas que emolduram o filme.

Aliás, muito mais que simplesmente emoldurar, os lençóis maranhenses se constituem em um verdadeiro personagem de “Betânia”. A região é a vida, o lar, o sustento, as dores e os amores da população local.

O que o turista vê no lugar é apenas a ponta de uma duna de areia que traz em sua base problemas sérios como erosão, invasão de águas e dificuldades de sobrevivência. Isso a agência de turismo não mostra. No final (e isso não é spoiler), encanta também a ideia da busca pela beleza em lugares que a maioria das pessoas despreza.

Mas se os lençóis maranhenses são um protagonista a parte em “Betânia”, o mesmo se pode dizer de sua música. Não somente a trilha musical inserida não diegeticamente na obra, como também – e principalmente – o registro fílmico documental das diversas e riquíssimas manifestações musicais do Maranhão, como o Bumba Meu Boi, o Tambor de Crioula e o Reggae Remix.

Depois da exibição no 74º Festival de Berlim, o longa passou por mais de 20 festivais em 16 países. A lista inclui eventos de peso no cenário internacional, como os festivais de Guadalajara (México), Leeds (Inglaterra), Toulouse (França), Rio, Mostra de SP, Huelva (Espanha), Taiwan e o Malaysia International Film Festival, onde recebeu o prestigiado troféu New Hope Award. A estatueta abriu as portas do mercado asiático para o longa brasileiro. Betânia passou por mais três festivais na Índia e outros dois na China após a premiação na Malásia.

As filmagens foram realizadas no povoado de Betânia, município de Santo Amaro do Maranhão e teve diárias adicionais em São Luís e Barreirinhas. O elenco conta com nomes como Diana Mattos, que recebeu a Menção do Júri como Melhor Atriz no Festival do Rio; Nádia D’Cássia, Caçula Rodrigues e Ulysses Azevedo, esses três também indicados como atores coadjuvantes no Rio; Michelle Cabral e Rosa Ewerton Jara, ambas indicadas como atriz coadjuvante na Malásia; a artista pop Enme Paixão, o comediante ludovicense Vitão Santiago e o Mestre Tião Carvalho, que – além de ter sido indicado como melhor ator no Festival do Rio – também assina diversas músicas que compõe a trilha sonora de “Betânia”.

Primeiro longa de Marcelo Botta, “Betânia” chega aos cinemas em todo o Brasil nesta quinta, 08/05.

 

Quem dirige

Marcelo Botta escreveu e dirigiu o longa “Betânia” , que estreou na 74ª Berlinale e passou por mais de 20 festivais de 15 países de 3 continentes. Criou e dirigiu a série documental “Portraits” rodada em lugares isolados da América do Sul, além da série de ficção “Auto Posto”, em coprodução com a Paramount, sucesso de audiência no Comedy Central com 20 episódios produzidos e indicada ao prêmio ABRA de melhor roteiro.

Junto com Gabriel Di Giacomo, escreveu e dirigiu a série “Foca News” (2016), coprodução com a Fox exibida no FX e produziu “O Último Programa do Mundo” (2016). Também foi produtor dos longas documentais “Marcha Cega” (2018) e “Memória Sufocada” (2021) de Gabriel Di Giacomo, filmes que passaram por importantes festivais no Brasil e Europa.

Antes da Salvatore Filmes, trabalhou na MTV Brasil onde dirigiu os programas Comédia MTV (vencedor do APCA 2010), Furo MTV, Furo em Londres 2012, Trolalá, Adnet Ao Vivo e Adnet Viaja, programa rodado em 13 países da Europa e Caribe também em 2012.