O Exorcismo de Emily Rose
O desafio não era dos mais fáceis: fazer um filme que misturasse terror com drama de tribunal. O diretor Scott Derrickson, mesmo com sua pouca experiência (este é efetivamente seu primeiro longa lançado nos cinemas), conseguiu cumprir a tarefa, com razoável competência cinematográfica, e louváveis resultados comerciais (o filme custou US$ 20 milhões e faturou praticamente o quádruplo nas bilheterias internacionais).
Baseado em caso real acontecido com a garota alemã Anneliese Michel, nos anos 70, O Exorcismo de Emily Rose conta a história de um padre (Tom Wilkinson, o vilão Falcone, de Batman Begins) que é acusado de homicídio culposo por supostamente ter impedido que a jovem estudante Emily (Jennifer Carpenter) recebesse cuidados médicos, provocando assim a morte da garota. Porém, o religioso alega que nenhum cuidado médico poderia salvar a estudante, que segundo ele estaria sofrendo sucessivos ataques do demônio. O pragmatismo da Medicina defende a tese que Emily era epiléptica e psicótica. A Religião aponta o exorcismo como a única saída. Mas o fato é que a garota está morta, e o caso deve ser levado aos tribunais. Neste contexto – reforçando todo o enfoque dualístico do filme – entram em cena um advogado que se diz religioso (Campbell Scott, de A Vida Secreta dos Dentistas) e uma advogada que se acredita agnóstica (Laura Linney, de Kinsey – Vamos Falar de Sexo). E quem achou que o religioso defenderia o padre e a agnóstica defenderia o poder público acaba de enganar: diante da Lei, os papéis se invertem.
O “pulo do gato” (ainda se fala assim?) do filme é trazer elementos que vão agradar tanto ao fã de terror, quanto àqueles que gostam de tramas passadas em julgamentos. Como logo nos primeiros minutos o espectador já fica sabendo que Emily Rose está morta, o roteiro opta por narrar o tempo presente como um filme de tribunal, e deixa as cenas de horror para os flash backs onde os envolvidos narram suas experiências demoníacas. Em ambos os casos, o diretor Derrickson utiliza um tom sóbrio, e não deixa o espectador se esquecer que, no fundo, a história a ser contada é mesmo a de Emily, por mais que os demais personagens também sejam fortes.
O Exorcismo de Emily Rose foge dos “hollywoodianismos” fáceis. Recorre aos efeitos especiais sem exageros e com competência, além de não glamourizar em excesso o ambiente dos tribunais. Nada de juízes martelando freneticamente gritando “Ordem!Ordem”, nem testemunhas surpresas que aprecem na última hora mudando tudo, muito menos ninguém sussurrando “oooohhhh!” a cada nova revelação. O filme prefere discutir litígios milenares e insolúveis, como Medicina e Religião, Racionalidade e Espiritualidade, e claro, o bom e velho Deus e Diabo… no caso, na Terra do Frio, porque parece nunca parar de chover ou nevar na Britsh Columbia canadense, onde tudo foi rodado.