“O FILME PERDIDO DE NUREMBERG”, OBRIGATÓRIO PARA CINÉFILOS, HISTORIADORES E ANTIFASCISTAS.

Por Celso Sabadin.

1948. Apenas três anos após o fim da Segunda Guerra Mundial, os EUA já estavam passando pano para os nazistas. Motivo: a intensificação da Guerra Fria contra os comunistas. “Pegava mal” para os EUA, naquele momento de intenso confronto ideológico contra o socialismo, escancarar tão abertamente os crimes de guerra que a Alemanha havia cometido em nome do pensamento de direita que – a rigor – não era assim tão diferente do norte-americano. Além, claro, dos interesses econômicos do Plano Marshall, que pretendia “reconstruir” a Europa, desde que os europeus pagassem juros bem altos (e, se possível, eternos) ao Tio Sam.
Resumo da ópera: o governo dos EUA decide que seria politicamente danoso aos interesses da nação o lançamento do documentário “Nuremberg: Uma Lição Para o Mundo de Hoje”, que Stuart Schulberg – filho de um chefão da Paramount – havia exaustivamente filmado durante todo o julgamento de Nuremberg (que durou praticamente um ano inteiro), e que levara três anos para montar. Documento importantíssimo para abrir os olhos do mundo sobre a atrocidade nazista, o filme foi solenemente engavetado por Washington.
A história só veio à tona em 2002, quando a filha de Schulberg encontrou por acaso uma vasta documentação sobre todo o caso – incluindo o próprio filme em si – na casa de sua mãe, que acabara de falecer. Ninguém da família sabia do ocorrido. Ou, neste caso, do não ocorrido.

Todo este triste episódio no qual – mais uma vez – os interesses políticos e econômicos sobrepujaram a questão humanística, é relatado em detalhes e extenso material de arquivo em “O Filme Perdido de Nuremberg”, documentário inédito no Brasil que estreia no Curta!On no próximo dia 2 de abril.

Produzido pela ARTE France e dirigido por por Jean-Christophe Klotz, “O Filme Perdido de Nuremberg” mescla entrevistas atuais com imagens históricas do julgamento, além de recolher extenso material produzido pelos próprios nazistas durante o conflito. apresentar uma parte dos arquivos do próprio Schulberg. Entre os entrevistados, está o filho de um dos nazistas julgados, Hans Frank, acusado de ser responsável pelo assassinato de milhões de judeus. Ao analisar o registro da reação do próprio pai, diante das imagens de campos de concentração apresentadas na tela do julgamento, Niklas Frank comenta: “Tenho quase 100% de certeza de que meu pai nunca tinha visto isso, porque ele não queria. Ele sabia exatamente o que estava acontecendo com todas aquelas pessoas inocentes, mas assistir em uma tela, em uma sala como esta, foi algo realmente novo para ele (…) Eu jamais vou conseguir perdoá-lo”.

Num momento de ressurgimento mundial do ideário nazifascista que levou o mundo ao caos da Guerra, “O Filme Perdido de Nuremberg” se reveste de importância e urgência fundamentais. Imperdível.
O longa está disponível exclusivamente através do Curta!On, o novo clube de documentários do canal Curta! no NOW, da NET/Claro, com estreia marcada para 2 de abril. Breve, estará disponível na Tamanduá TV.