O FILME PROPÕE “UM POUCO DE CAOS”, MAS É ORDEIRO DEMAIS.

por Celso Sabadin.

Nos obsessivamente simétricos jardins do suntuoso Palácio de Versailles, um pouco de desordem pode cair bem. Não é difícil perceber que os jardins, aqui, servem como uma metáfora da própria vida, irremediavelmente caótica e assimétrica, e sempre disposta a derrubar as expectativas de quem tiver a infeliz ideia de controlá-la ou ordená-la cartesianamente.

A infinita vocação da existência para sempre nos surpreender seria o tema principal de “Um Pouco de Caos”, segundo longa dirigido por Alan Rickman (o primeiro foi “Momento de Afeto”, no longínquo 1997), mais conhecido como ator. E talvez mais conhecido ainda como o Professor Severo Snapes de Harry Potter. Escrevo “seria” o tema principal pois o filme nos dá a impressão de começar um assunto e a ele não dar continuidade.

Lança-se a ideia proposta pelo título, mas depois ela acaba ficando em planos inferiores, se esmaece, abrindo espaço apenas para uma singela história de amor.

No frigir dos ovos (ainda se usa esta expressão?), o que sobra é um filme de visual apurado, uma ácida crítica ao vazio superficial da corte de Rei Luís XIV (papel do próprio Snapes, ou melhor, Rickman) e um doce romance entre o arquiteto André Le Notre (personagem que a história de Versailles de fato registra) e a paisagista Sabine de Barra (Kate Winslet, bastante convincente), uma mulher forte que guarda um dolorido segredo.

Para quem não se importar em ouvir um filme totalmente ambientado na corte francesa de Luís XIV sendo falado cem por cento em inglês, “Um Pouco de Caos” pode ser um entretenimento eficiente. Recomenda-se ainda não prestar atenção à insistente, onipresente e repetitiva trilha sonora.