O Galinho Chicken Little

Depois de produzir sucessos grandiosos (Toy Story, Vida de Inseto e Os Incríveis, por exemplo), a parceria entre a Pixar Animation (empresa de Steve Jobs) e a Disney começou a ruir. Problemas de relacionamento entre os executivos e desentendimentos quanto aos diretos autorais dos personagens praticamente terminaram com o lucrativo casamento entre as empresas. Ainda há um “filho” a ser distribuído – Carros, previsto para 2006 – e correm rumores de reconciliação, mas até o momento nada é certo.
Para a Disney, o divórcio seria terrível, já que nos últimos dez anos os desenhos animados de longa metragem assinados apenas por ela foram desastrosos, enquanto os realizados em conjunto com a Pixar foram mais do que vitoriosos. Para garantir a continuidade da produção de longas de animação totalmente virtuais, a Disney, sem a Pixar, realizou O Galinho Chicken Little, tentando provar que, caso o divórcio se concretize, ela saberá andar com as próprias pernas. Saberá mesmo? A julgar pelo resultado deste desenho, a resposta seria não.
Ainda que simpático, O Galinho Chicken Little está longe do nível de excelência obtido pela Pixar. E o motivo é o mesmo que assombra a Disney nos últimos anos: a falta de um bom roteiro. Chicken Little é um frangote pré-adolescente que tem medo que o céu caia sobre a sua cabeça. Já conhecemos bem este conceito dos quadrinhos de Asterix, não? Logo no início do filme ele faz um grande escarcéu na cidade onde mora, anunciando o que seria a queda total do céu, mas tudo não passa de um alarme falso, o que compromete sua credibilidade e envergonha seu pai. Novamente temos a situação do jovem tentando conviver com suas inseguranças, mal compreendido no mundo dos adultos, e apoiado somente por um pequeno grupo de bons amigos tidos como “nerds” ou “loosers” (perdedores), como os americanos gostam de dizer. O restante é facilmente previsível: redenção, transformação, crescimento, rito de passagem para a vida adulta e – de quebra – a idéia fixa do imaginário coletivo norte-americano: salvar o mundo de uma invasão alienígena. Que mania! Ou seja, uma história já contada milhões de vezes, só que agora sob o ponto de vista de um galinho. Lembrando que, em inglês, “Chicken” é gíria para “covarde”.
O diretor Mark Dindall (que também dirigiu para a Disney o divertido A Nova Onda do Imperador) não consegue disfarçar a mesmice do roteiro, que se assemelha a uma colcha de retalhos de várias outras histórias que todo mundo já viu antes. Os personagens são simpáticos e bem construídos (o que deve render bastante em licenciamento), mas falta o frescor criativo da Pixar, o elemento inesperado, o “toque de Midas” que faz a diferença.
Se a Disney não repensar seus roteiros e se a separação da Pixar realmente se confirmar, aí sim eles vão ver de perto o céu do mercado de animação caindo sobre muitas cabeças.