O GRITO DE BASTA DE “MEU NOME É BAGDÁ”.

Por Celso Sabadin.

Levantar um protesto e sustentar uma ideia ao mesmo tempo em que expõe denúncias, tudo isso sem cair no panfletarismo superficial. Assim é “Meu Nome é Bagdá”, segundo longa de Caru Alves de Souza (o primeiro é “De Menor”, de 2013), filme que acumula 14 premiações internacionais e foi selecionado para mais de 60 eventos no exterior.

Com roteiro da própria diretora em parceria com a argentina Josefina Trotta, “Meu Nome é Bagdá” segue o cotidiano da personagem título (vivida por Grace Orsato, espetacular), garota de 17 anos da periferia paulistana que tem como principal prazer na vida andar de skate com seus amigos.

Subvertendo a linha tradicional da narrativa clássica, “Meu Nome é Bagdá” monta cuidadosamente diante dos nossos olhos um painel afetivo, antropológico, social, comportamental – chame como quiser – que tem o poder de protestar alto e forte contra a arcaica supremacia branco-hétero dominante alfa – chamem também como quiser – deste insuportável jeito de viver que predomina neste nosso triste Brasil contemporâneo.

Mais que um filme, “Meu Nome é Bagdá” é um grito que sai forte, rouco e poderoso das gargantas de todas as oprimidas, aqui representadas por uma protagonista que extrapola sua figura física miúda para se transformar numa gigante bandeira reivindicativa de uma vida – pelo menos – mais digna.

Badgá, suas irmãs, sua mãe, sua corajosa tia dona de um boteco, as colegas skatistas que surgem empoderadas no meio da história, todas estas personagens femininas sintetizam a força desta luta interminável contra os vícios e os crimes aos quais  gerações e gerações de mulheres vêm se submetendo. O filme procura ser um “basta” a tudo isso, empreendido por uma equipe igualmente composta quase em sua totalidade por mulheres.

Vencedor da Generation 14plus no Festival de Berlim, “Meu Nome é Bagdá” é interpretado por saktistas reais sem experiência anterior em cinema (incluindo a protagonista), que se mesclam a atriz Gilda Nomacce, à cantora e compositora Karina Buhr e à performer Paulette Pìnk, entre outros. O longa estreia em 16 de setembro em salas do Rio de Janeiro e São Paulo, e na semana seguinte chega a 100 cinemas de 40 cidades da França.

Algumas premiações do filme (por enquanto):

* Berlin International Film Festival – Berlinale – melhor filme na mostra Generation 14plus

* Anual Nordic International Film Festival (Nova York, EUA) – melhor filme e melhor direção

* Gender Bender Festival (Bolonha, Itália) – melhor filme pelo júri jovem

* FESAALP – Festival de Cine Latinoamericano de La Plata (Argentina) – melhor filme latino-americano

* Cormorán Film Fest – Festival de Cine Internacional de A Coruña (Corunha, Espanha) – prêmio do público

* Festival de Cine de Lima PucP (Peru) – melhor atriz (para Grace Orsat) e menção honrosa para o elenco feminino

* Festival Cine Júnior (Vale do Marne, França) – prêmio do júri estudantil

* Festival de Cine de Mujeres de Santiago de Chile – FEMCINE – melhor longa-metragem internacional

* R2R – Reel 2 Real International Film Festival for Youth (Vancouver (Canadá) – Prêmio Edith Lando Peace para “o filme que melhor usa a linguagem do cinema para avançar no estabelecimento de paz e justiça no mundo”

* Bilbao Surf Film Festival (Espanha) – melhor filme de ação

* CINELATINO Tübingen (Alemanha) – prêmio do público

* Internationales Frauen* Film Fest (Alemanha) – prêmio do público.