“O HOBBIT” TEM MAIS HUMOR E MENOS REDUNDÂNCIAS QUE A SAGA ANTERIOR.

Nunca escondi de ninguém que não curto a trilogia “O Senhor dos Anéis”. Até já apareceram aqui na minha rua uns sujeitos estranhos com pés grandes e peludos, segurando tochas de fogo e pedindo minha cabeça por causa disso, mas isso é outra história. Assim, fui ver “O Hobbit” sem nenhum entusiasmo. A sessão “para a imprensa” estava lotada de gente que eu nunca tinha visto antes.

As primeiras cenas me deixaram assustado. Quando um personagem fala “um dragão”, logo em seguida grita “dragão” e imediatamente depois um narrador informa “É um dragão”, pensei que iria presenciar outro show de redundância anticinematográfica, destes que estão recorrentemente presentes na trilogia “O Senhor dos Anéis”. É impressionante como os roteiristas da franquia acreditam pouco na percepção do público, e fazem questão de repetir e trepetir várias informações.

Porém, para o meu alívio, a redundância draconiana ficou restrita às cenas introdutórias. Aos poucos, o filme foi tomando jeito, se aprumando, encontrando seu rumo. Treze anões, um mágico e um hobbit saem em busca de um reino destruído e que está dominado por… um dragão (olha ele aí outra vez). Várias referências me vieram à mente. O grupo comandado por um rei sem terra e por um mago poderoso, armado com espadas mágicas, logo me remeteu à lenda do Rei Arthur e sua busca pela unificação da Inglaterra. Por outro lado, é impossível não lembrar do êxodo judeu e sua busca pela Terra Prometida ao entrar em contato com este grupo de personagens expatriados. E os treze anões em luta pela independência do seu reino poderiam muito bem representar as treze colônias norte-americanas em guerra contra a Inglaterra pela formação do que viriam a ser os Estados Unidos.
Tudo bem que Tolkien nem era americano; a viagem é minha.

Nada disso é demérito: afinal, o caldeirão de referências histórico-literário-cinematográficas está aí mesmo para ser reciclado. De qualquer maneira, como não poderia deixar de ser, temos de volta a boa e velha questão da jornada do herói e dos arcos dramáticos de quem a empreende. Clássico. O herói é chamado para a jornada, hesita, supera barreiras, vence, se transforma. Ninguém esperava nada diferente disso, esperava?
A boa notícia é que “O Hobbit” requenta todos estes antigos conceitos com simpatia e competência. Há mais humor do que havia nos filmes anteriores, os personagens – ainda que em profusão – são bem construídos e bem interpretados, e a direção de arte continua primorosa.

Rápidas aparições de personagens famosos da primeira trilogia (Saruman continua ótimo com seu penteado a la Sylvio Back e é sempre bom rever Cate Blachett, mesmo por poucos minutos) fazem as necessárias ligações afetivas com os filmes anteriores. Porém, as imagens geradas por computador são irregulares, misturando fascinantes gigantes de pedra com paisagens de tirar o fôlego e “lobos” selvagens quase tão malfeitos quanto aqueles da saga “Crepúsculo”. E algumas sequências estão mais para videogame que para cinema.

O resultado final de tudo isso acaba sendo bastante satisfatório e divertido, talvez até pela pouca expectativa que eu tinha pelo filme. Mas é claro que, quando aparecem os gigantes de pedra, sempre tem um personagem para gritar: “Gigantes de Pedra!”. Essa turminha da Terra Média realmente adora uma redundanciazinha básica…