Por Celso Sabadin.
Lembrei muito da fase Franquista do cineasta espanhol Carlos Saura ao ver “Demon”. Se Saura, na época em que o ditador Franco mandava matar quem fosse contra seu governo, representava a podridão da Espanha através de casarões decadentes, o cineasta polonês Marcin Wrona fez algo parecido em seu filme.
Com roteiro baseado na peça teatral de Piotr Rowicki, “Demon” é quase inteiramente ambientado durante a festa de casamento do inglês Piotr com a polonesa Zaneta. Eles se conheceram há pouco tempo, se apaixonaram rapidamente, e agora morarão juntos numa antiga propriedade rural decadente no interior da Polônia. Na noite da festa, porém, Piotr alega ter visto um esqueleto humano enterrado no lugar, e coisas estranhas começam a acontecer. “Demon” está sendo posicionado como um filme de terror, o que não é exatamente uma inverdade, mas é claro que trata-se muito mais de uma crítica social e política que propriamente uma produção de horror. Aqui, não é o medo que fala mais alto, mas sim a radiografia da amargura de uma Polônia fragmentada. Em determinada cena, um personagem lamenta os destinos do país, nas mãos “primeiro da Alemanha, depois da Rússia e mais tarde de Israel”, em seu dizer. “E tem saudades da época em que “tudo era Polônia”, afirma. Alheios a tudo, os convidados da festa só querem dançar e beber.
Neste sentido, fica clara a metáfora da ambientação decadente, suja e cheia de lama – com esqueletos mal enterrados – com a própria história do país ode a ação se desenvolve.
O aspecto místico corre por conta de uma espécie de releitura do mito judaico/polonês “Dybukk”, que não difere muito dos inúmeros espíritos atormentados já vistos em outros filmes do gênero.
Nada genial, tampouco muito criativo em termos de cinema, mas que consegue manter o interesse.
A nota trágica fica por conta do suicídio do diretor Marcin Wrona no quarto do hotel em que se hospedava na cidade polonesa de Gdynia, onde “Demon” competia num festival.
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