O INFERNO DA GUERRA NO “PARAÍSO” DE KONCHALOVSKY.

Por Celso Sabadin.

Presença constante em festivais e premiações desde os anos 70, o cineasta russo Andrei Konchalovsky não tem preconceitos: dirige com desenvoltura tanto belos dramas românticos tipo “Os Amantes de Maria”, como filmes de ação com Sylvester Stallone como “Tango & Cash”. Acumula dezenas de indicações e premiações nos mais importantes festivais mundiais, e transita também pelo documentário e televisão. Seu trabalho mais recente – “Paraíso” – estreia agora no Brasil após levar o prêmio de Direção em Veneza. E não decepciona os fãs deste eclético e talentoso diretor.

Filmado num belo preto e branco, “Paraíso” se desenvolve sobre três depoimentos de três personagens da Segunda Guerra Mundial: o colaboracionista francês Jules, o oficial nazista Helmut, e aristocrata russa Olga. Na medida em que os depoimentos se desenrolam – sob uma suposta formatação documental – vemos como estas três vidas se entrelaçarão durante os horrores do conflito.

Um dos maiores méritos de “Paraíso” é evitar os lugares comuns sobre os quais filmes feitos com esta temática quase sempre se apoiam. Por mais que a história já tenha “julgado” os lados teoricamente vencedores e perdedores da Guerra, por mais que o senso comum já tenha cristalizado as ideias que possam ser consideradas aceitáveis e as que necessariamente devem ser consideradas inaceitáveis sobre tudo o que se sabe deste episódio histórico, o filme é extremamente hábil em expor as motivações, crenças e linhas de raciocínio do trio protagonista. Por mais tortas que elas possam ser.

Os mais céticos podem até rejeitar o final redentor, mas é inegável que “Paraíso” traz qualidades narrativas dignas do grande cinema que Konchalovsky tem realizado nas últimas décadas.