O INTERESSANTE FRENESI DE “TRILHA SONORA PARA UM GOLPE DE ESTADO”.
por Rafael G. Bonesi.
Este documentário envolvente, dirigido por Johan Grimonprez, aborda como cantores de Jazz foram usados como arma política pelos EUA durante a guerra fria, assim como o envolvimento dos países imperialistas na independência do Congo que foi peça chave nos conflitos entre EUA e URSS, deixando claro a exploração do país pelos seus recursos.
A obra, no entanto, peca por abraçar uma fatia tão grande da história em seus 150 minutos, bombardeando o espectador com uma multiplicidade de informações o mais rápido possível, tornando tudo muito difícil de acompanhar. A complexidade do assunto nessa velocidade poderia levar o filme para uma experiência desagradável, mas Johan consegue dar a volta por cima através da maneira como organiza a rapidez dos acontecimentos, apresentando as informações com uma trilha sonora familiar que dita o ritmo da montagem.
O envolvimento dos músicos de Jazz nos eventos históricos retratados pelo filme se torna cada vez menor no decorrer da obra, tornando-se apenas uma porta de entrada para o assunto principal que o diretor quer abordar, uma cortina de fumaça para o tema real (exatamente o mesmo papel que exercia durante o conflito). Causa, assim, frustração por se tornar um tópico recorrente, mesmo depois que o assunto principal (sobre a descolonização do continente africano e a batalha pelo controle do Congo) já ganhou o nosso interesse. Trazendo a impressão de que o cineasta tem medo de perder a atenção do público se focar no assunto mais complexo, mas é ele quem realmente perde o foco.
Na busca de Johan por ser um condutor invisível da obra, todo o filme é composto por vídeos, gravações e textos retirados diretamente da época, um trabalho de pesquisa delicado que encontra todas as peças do quebra-cabeças que ele cautelosamente nos apresenta ao som de Jazz. Como consequência desses recortes e da trilha que conduz o raciocínio, a estética do todo se torna algo semelhante a uma colagem de revista ou um clipe musical frenético, arremessando um novo fato antes do anterior se solidificar inteiramente na sua mente.
Definitivamente “Trilha Sonora Para um Golpe de Estado” conta fatos necessários e importantes de chegarem ao público, porém sua organização frenética deixa a desejar, dificultando a compreensão de sua mensagem. Ao buscar relacionar a própria estrutura do filme com o Jazz que aborda dentro da obra, Johan tropeça nos próprios pés, mas não deixa de fazer algo extremamente interessante e cativante.