“O JABUTI E A ANTA”: O BRASIL FAZENDO ÁGUA.

Por Celso Sabadin

“Se cada casa brasileira tivesse um painel solar, geraria oito vezes mais energia que a usina que querem construir nas terras dos Munduruku”. A frase – que consta no documentário “O Jabuti e a Anta” – é provavelmente o grande cerne da questão que o filme propõe. Ou poderia propor. Porém, ela só aparece aos 45 do segundo tempo, após os créditos finais, colocando meio que de lado a oportunidade de uma discussão que poderia ser das mais instigantes na estrutura do longa.

Contudo, dizem que o crítico de cinema deve criticar o filme feito, não o que ele gostaria que fizessem, no que eu concordo totalmente. Vamos, então, a ele: aproveitando o gancho do Dia Mundial da Água, “O Jabuti e a Anta” faz um mergulho (com o perdão do trocadilho) na questão das usinas hidrelétricas brasileiras, e de como elas contribuiriam muito mais com a devastação do meio ambiente e das terras indígenas que propriamente com a solução dos problemas energéticos do país. A partir deste mote, o documentário conversa com a população ribeirinha e demonstra, com belas imagens e depoimentos, o impacto ambiental das usinas, com destaque para a de Belo Monte.

Narrado em primeira pessoa (na voz de Letícia Sabatella), o filme é um diário de bordo de impressões da diretora Eliza Capai. Exibe problemas crônicos e seculares do Brasil (principalmente em relação aos totais descaso e desprezo da questão indígena quando confrontada com os interesses comerciais), ao mesmo tempo em que acena com um alento de esperança quando mostra uma experiência vitoriosa e inspiradora do lado peruano da Amazônia.

Não raro esbarra num certo panfletarismo por vezes ingênuo, marca registrada das produções assinada pelo Greenpeace, o que não diminui a gravidade da tragédia anunciada: a dilapidação da Amazônia.

Um filme para ver, pensar e discutir, com estreia em 22 de março.