“O JUÍZO UNIVERSAL”: O FILME QUE O FIM DO MUNDO ESQUECEU.

Por ocasião do fim do mundo, “ocorrido” em dezembro do ano passado, vários filmes sobre o tema foram lembrados pela mídia. Um, em especial, foi esquecido: o delicioso “O Juízo Universal”, de 1961, que felizmente para a lembrança de todos a Versátil está lançando agora em DVD.

O time é de feras: roteiro de Cesare Zavattini e direção de Vittorio De Sica (a mesma dupla de “O Ladrão de Bicicletas”), produção de Dino de Laurentiis (uma espécie de Spielberg europeu dos anos 50, 60 e 70), e no elenco nomes como Alberto Sordi, Vittorio Gassman, Nino Manfredi, Silvana Mangano, Anouk Aimée, Melina Mercouri, e mais os americanos Jimmy Durante, Ernest Borgnine, Jack Palance.

Toda a história se passa num único dia, em Nápoles. De repente, sem nenhum motivo aparente, a voz de Deus anuncia, portentosa, do alto das nuvens: “Hoje, às 18 horas, Juízo Universal”. A população entra em pânico. Como assim? Hoje? E o anúncio divino insistentemente vai se repetindo, para o desespero crescente dos que se julgam pecadores. Cá embaixo, na Terra, várias situações se desenrolam com diferentes graus de humor e picardia. Um homem descobre que está sendo traído pela esposa, um jovem rouba o dinheiro da mãe para comprar sapatos para o baile, um importante político visita a cidade, um vigarista é julgado por vender títulos de nobreza, e assim por diante. Pequenos e grandes delitos que se colocam sob uma perspectiva totalmente inédita diante do iminente fim do mundo. Forma-se, aos poucos, a construção de um magnífico painel das pequenas mazelas humanas regadas com o saborosíssimo molho muito peculiar do humor italiano. Mais que italiano, napolitano.

A direção de De Sica é de cair o queixo. Ele domina com maestria as mais diversas camadas da cidade de Nápoles, transformando-a em parte integrante do filme. Primeiros, segundos e terceiros planos são trabalhados com precisão milimétrica. Pessoas correndo, janelas se abrindo e multidões em movimento são transformadas em panos de fundo vivos e orgânicos através das lentes de De Sica. Tudo captado num belíssimo preto e branco em cópia restaurada.
Felizmente o mundo não acabou no ano passado, e deu tempo para a Versátil presentear o cinéfilo com este precioso lançamento.