“O LOBO DO DESERTO” REPRESENTA A JORDÂNIA COM ESTÉTICA MULTINACIONAL.

Por Celso Sabadin.

Que fique bem claro: não se trata de nenhum tipo de saudosismo. É apenas uma constatação. Quando eu iniciei minha adolescência cinematográfica, enfurnado durante horas a fio nas salas do Cine Belas Artes (um referencial paulistano de cinema vindo dos mais variados cantos do mundo), os filmes, digamos assim, “estrangeiros” (leia-se europeus e asiáticos) eram efetivamente diferentes do que estávamos acostumados a ver nas telas do grande circuito. Eram fascinantes produções vindas de longe e que nos traziam outras estéticas, outros tempos, outras cores, outras sensações.

Mas isso foi antes de chegar esta maldita globalização, quem tem equalizado o mundo inteiro. Anos atrás, um filme vindo da Jordânia, por exemplo, provocaria uma forte dose de curiosidade. Hoje, analisando a estreia de “O Lobo do Deserto” (coproduzido por Emirados Árabes, Qatar, Jordânia e Inglaterra), percebe-se que a cada ano que passa pasteuriza-se um pouco mais a forma mundial de fazer cinema. E, pena, parece que todos buscam um gosto ocidental médio; todos parecem querer um Oscar, ou pelo menos um mercado maior. Sai a arte, entra o business.

 

Não que “O Lobo do Deserto” seja ruim, longe disso. Acompanha-se com interesse a bem contada história de Theeb (o bom estreante Jacir Eid al-Hwietat), um garoto que se envolve numa trágica aventura ao seguir seu irmão mais velho através do deserto. Em nome da honra e da fidelidade familiar, o menino passa por um precoce processo de amadurecimento ao se perceber inadvertidamente rodeado por mercenários assassinos sob o escaldante sol do deserto árabe, numa época em que os trens britânicos ainda construíam seus primeiros trilhos.

O filme inegavelmente tem qualidades. E não são poucas. Bate apenas aquele desalento de acompanhar, novamente, uma estética e um padrão narrativos bastante ocidentais e até um pouco “mercadológicos” demais para uma produção que representa a Jordânia na festa do Oscar. O deserto é árabe, os atores também, o idioma falado idem, mas há cenas que mimetizam os mais típicos westerns norte-americanos, enquanto os arcos dramáticos propostos pelo roteiro são igualmente bem conhecidos do público ocidental.

“O Lobo do Mar” marca a estreia do jordaniano Naji Abu Nowar tanto no roteiro como na direção de longas. Uma estreia mais do que promissora, já que o filme tem colecionado dezenas de prêmios em vários festivais por este mundo globalizado. De Abu Dhabi a Miami.

A estreia no Brasil é nesta quinta, 18 de fevereiro.