O LUTO LETÁRGICO DE “SHIVÁ – UMA SEMANA E UM DIA”.  

Por Celso Sabadin.

Nada parece fazer muito sentido no filme “Shivá – Uma Semana e um Dia”.  A agressividade de Eyal é perturbadora. A passividade de sua esposa, Vicky, é estonteante. Ambos parecem estar sintonizados num mundo distante e paralelo. As pequenas situações do dia-a-dia, como agendar uma consulta no dentista ou reclamar do barulho do vizinho, assumem contornos épicos, quase trágicos, além de misturar drama com pitadas de um humor muito peculiar.

Mas logo esta estranha perspectiva ganha uma lógica: Eyal e Vicky, na verdade, estão atordoados: eles estão terminando o Shivá, período de luto dentro da cultura judaica, pela morte de seu jovem filho. Justifica-se o estranhamento e o florescimento dos mais bizarros comportamentos.

Este clima permeará todo o filme, com Eyal desenvolvendo uma relação de dependência, ódio e talvez substituição com o filho de seu vizinho, ao mesmo tempo em que a atônita Vicky busca seguir a vida dentro da maior normalidade possível. Cada um se entorpece à sua maneira, e o abismo que se abre sob o chão do casal parece não ter fim.

Trata-se certamente de um filme estranho, que muitas vezes parece perdido dentro de sua própria estrutura. Como perdidos ficam aqueles que veem partir seus entes queridos.

A estreia foi em 24 de agosto.