O MEXICANO “CLUB SÁNDWICH” CONTA A VELHA HISTÓRIA DE FORMA NOVA.

Por Celso Sabadin

O tema de “Club Sándwich” (assim mesmo, com acento) é dos mais conhecidos no cinema. A forma como ele é abordado dentro do filme, nem tanto. O tema: a descoberta da sexualidade por parte de um garoto de 15 anos, e como tal descoberta gradativamente faz com que ele rompa o codão umbilical que o une à sua mãe. A forma: tudo acontece dentro de um hotel praticamente vazio, fora de temporada, com apenas cinco atores, sendo que dois deles não têm diálogos. O resultado: “Club Sándwich” foi selecionado para concorrer em importantes festivais internacionais, e premiado na categoria Melhor Direção no conceituado Festival Internacional de San Sebastián, na Espanha.

Permeado por longos e enigmáticos silêncios, e sem trilha sonora, o filme utiliza os grandes espaços vazios do hotel onde tudo acontece como metáfora do isolamento do adolescente Héctor e sua mãe. É como se um só vivesse para o outro. Num primeiro momento, ambos se bastam, brincam, têm códigos próprios, não precisam de nada nem de ninguém. O filme não mostra sequer o suposto garçom que lhes leva o tal club sanduíche que batiza a obra. Mãe e filho só têm olhos um para o outro. O filho é o prolongamento da mãe, usando até seu desodorante. Compartilham cheiros. Um leve componente erótico paira no ar. Há um mínimo sinal de revolta do garoto: “Odeio quando você me chama de pãozinho de mel”, ele diz, afastando-se.

Porém, o amadurecimento é inevitável, e faz com que entre em cena o tão necessário elemento desorganizador que acionará o gatilho do conflito que se espera: Jasmin, uma garota de 16 anos, imediatamente vista pela mãe de Héctor como uma potencial ameaça a um equilíbrio que – sabe-se – tem momento certo para terminar.

Escrito e dirigido pelo mexicano Fernando Eimbcke (o mesmo do premiado “Temporada de Patos”, inédito no circuito comercial brasileiro), “Club Sándwich” brinca com um rigor estético que oferece uma profusão de atraentes planos gráficos e simétricos, por vezes contrapondo, por vezes compondo, visualmente, os três personagens principais e os conflitos que os regem. Travestido de, como dizem, “filme que não acontece nada”, na verdade trata-se de um filme onde acontece tudo. Ou, pelo menos, o tudo que encerra o inevitável e diário milagre do amadurecimento humano. Que não é pouca coisa.

O poderoso site Imdb o classifica como “comédia”. Santa ingenuidade..!