“O MISTÉRIO DE FRANKENSTEIN” TENTA NOVA LINGUAGEM, MAS SE PERDE NA ANTIGA.  

Por Celso Sabadin.

Digamos assim… “O Mistério de Frankenstein” é um filme de Frankenstein, sem o Frankenstein. Ou com diversos deles, mas nenhum do jeito que a gente conhece.

A proposta do roteirista e diretor grego Costas Zapas é trazer para os dias de hoje uma releitura muito particular do ícone criado pelo clássico romance de Mary Shelley, escrito em 1818.

A ação se passa nos dias de hoje, momento em que “Frankenstein” será encenado no teatro. Na tentativa de entrevistar o elenco antes da estreia, uma jovem repórter (Elli Tsitsipa) percebe que não há nenhum registro anterior de imagens do grupo que levará a peça ao palco: fotos, vídeos, blogs, nada. Apenas textos. Curiosa, ela insiste o máximo possível na entrevista, e sua vida se transforma num estranho labirinto místico de terror e mistério.

A proposta de “O Mistério de Frankenstein” passa longe do registro realista. Tudo é marcadamente estilizado dentro de uma linguagem que mistura histórias em quadrinhos com vídeo clipes, neogótico, etc., usando e abusando da nossa tal pós-modernidade que valoriza o chamado “tudo junto e misturado”.  A maquiagem carregada estilo expressionista dos anos 1910 e a fotografia em tons sépia fazem parte do conjunto. As locações em fábricas abandonadas e a proliferação de enquadramentos que buscam o diferenciado também contribuem para este – bem-vindo – estranhamento imagético.

A estilização em si não é o problema de “O Mistério de Frankenstein”. Pelo contrário: talvez eu nem estivesse aqui escrevendo sobre ele, não fosse pelo seu aspecto visual. A questão mesmo é a utilização pobre da linguagem cinematográfica, que se apoia na excessiva verbalização e na sequência desinteressante de longos diálogos para tentar desenvolver a trama. Ou, em outras palavras, discursivo, o filme fala o que deveria mostrar. E olha que nem é uma produção original Netlfix!

Assim, toda a suposta contemporaneidade de sua proposta artístico-visual acaba soterrada por um roteiro pouco inspirado que esbarra nas antigas e verborrágicas radionovelas. Alterar o enquadramento a cada três segundos não consegue transformar um roteiro fraco em filme bom.

Produzido pela Grécia, “O Mistério de Frankenstein” estreia nesta quinta, 04/02, na plataforma Cinema Virtual.