“O MUNDO DE GLÓRIA” É O MUNDO DE TODOS NÓS.

Por Celso Sabadin.

Sabe aqueles filmes franceses chiquérrimos e maravilhosos? Daqueles em que os personagens são todos bem-sucedidos – geralmente trabalhando no encantador mundo das artes – transitam por restaurantes cinco estrelas e moram em apartamentos charmosíssimos onde a Torre Eiffel está sempre à vista?
Então… esquece! “O Mundo de Glória” não é nada disso. E é maravilhoso! O filme aborda pequenas crises familiares que paulatinamente se acumulam, sinalizando consequências maiores que se avizinham.
A faxineira Sylvie (Ariane Ascaride) e o motorista de ônibus Richard (Jean-Pierre Darroussin) estão fascinados com o nascimento da netinha Gloria, filha da balconista Mathilde (Anaïs Demoustier) e do motorista de aplicativo Nicolas (Robinson Stévenin). Mathilde é filha do primeiro casamento de Sylvie com Daniel (Gérard Meylan), que acabou de sair da cadeia. E a irmã de Mathilde, a ambiciosa Aurore (Lola Naymark), mantém um brechó com o marido Bruno (Grégoire Leprince-Ringuet).
Deu pra entender? Não? Tudo bem. O importante mesmo é que “O Mundo de Glória” tem roteiro e direção de Robert Guédiguian, um dos mais sensíveis cineastas franceses da atualidade, capaz de harmonizar as mais doloridas emoções humanas com narrativas de extremas simplicidade e veracidade.
Emérito colecionador de premiações nacionais e internacionais, Guédiguian é o responsável por grandes filmes como “Uma Casa à Beira Mar”, “Uma História de Loucura”, “O Fio de Ariane”, “As Neves do Kilimandjaro” e “A Cidade Está Tranquila”, entre vários outros.
Despido de todo e qualquer glamour, investigando sentimentos reais de pessoas verdadeiras, e inclusive trocando a fotogênica Paris por uma Marselha de imperfeito realismo, “O Mundo de Glória” rendeu Ariane Ascaride o prêmio de Melhor Atriz no Festival de Veneza e estreia no Brasil nesta quinta-feira, 26 de fevereiro.