O NECESSÁRIO E POÉTICO “RIO DE VOZES”.

Por Celso Sabadin.

Num momento em que tantos factoides e tantas cortinas de fumaça são jogadas na imprensa para que o brasileiro se perca em memes e indignações vazias, e não preste atenção aos  grandes e verdadeiros problemas nacionais, a estreia de “Rio das Vozes” é mais que bem-vinda. Com direção e roteiro de Andrea Santana e Jean-Pierre Duret, o longa documenta o instante atual de uma das principais reservas hídricas, ambientais e sócio-culturais do Brasil: o sempre ameaçado Rio São Francisco.

“Rio das Vozes” acompanha famílias de pescadores que vivem em várias vilas e cidades à margem do chamado Velho Chico, entre a Bahia e Pernambuco. A câmera sempre atenta dos  diretores observa homens acostumados à construção de barcos, mulheres empresárias gerenciando uma rede de trabalhadores, vendedores de peixes, e jovens que questionam a viabilidade de seguir os passos dos pais, num momento em que a própria sobrevivência do rio é colocada em cheque.

Tudo com um olhar terno, que registra mas não interfere, que capta com sensibilidade, despojamento e senso crítico a alma da população ribeirinha em suas mais variadas facetas, desde o orgulho da milenar profissão de pescador, à preocupação crescente pela sobrevivência. A cena final, unindo gerações, é uma verdadeira poesia.

Após ser exibido em vários festivais pelo Brasil, “Rio de Vozes” estreia nos cinemas nesta quinta-feira, dia 17 de fevereiro, nas cidades de São Paulo, Fortaleza, Salvador, Brasília, Rio de Janeiro, Recife e Aracaju.

 

OS DIRETORES

Andréa Santana nasceu no Nordeste do Brasil. Arquiteta e urbanista de formação. Com Jean-Pierre Duret realizam filmes documentários, focados sobretudo na cultura do povo nordestino.

Jean-Pierre Duret nasceu na França. Engenheiro de som nos filmes de M. Pialat, Irmãos Dardenne, A. Resnais, A. Varda, JM. Straub e D. Huillet, H. Kore-eda, entre outros. Em 1986, dirigiu seu primeiro documentário : Un beau jardin par exemple, sobre seus pais agricultores.

Juntos eles dirigiram os documentários de longa-metragens : Romances de terra e água (2001), O sonho de São Paulo (2004), No meio do mundo (2008) e Se battre (2014). Seus trabalhos participaram e ganharam prêmios em festivais de todo o mundo, incluindo a Mostra de Veneza, o Cinéma du Réel, True or False Festival (USA), Festival Internacional do Filme de Roterdã. Todos esses filmes foram lançados nas salas de cinema, licenciados para canais de televisão, e estão disponíveis em DVD e VOD.