O NECESSÁRIO E SURPREENDENTE “DIAS VAZIOS”.

Por Celso Sabadin.
 
O importantíssimo e urgente tema do suicídio juvenil é abordado sem meias palavras no surpreendente “Dias Vazios”, estreia mais do que promissora do roteirista e diretor Robney Bruno Almeida no longa para cinema. Após vários curtas e dois seriados para TV, Robney demonstra invejáveis maturidade narrativa e estilística neste seu primeiro trabalho para a tela grande.
 
A partir do romance “Hoje Está um Dia Morto”, de André De Leones, “Dias Vazios” fala de Daniel, estudante do ensino médio numa cidadezinha do interior goiano que, perturbado, tenta escrever um livro sobre um suicídio acontecido dois anos antes, em sua escola. Quanto mais Daniel investiga o caso, mais a sua própria vida se confunde com a do colega morto.
 
Como pano de fundo, o filme explora com muita competência o monumental tédio que envolve a cidade de Silvânia, onde moram os protagonistas. Um desespero silencioso e onipresente que potencializa a solidão e a sensação de vazio. Validando o imobilismo, a mentira e a perpetuação da falsa ordem, surgem impávidas e corruptas as forças seculares do poder religioso infiltrado nas bases do ensino. A repetição das tragédias se mostra inevitável.
 
A fotografia esmaecida e sem vida sublinha dolorosamente a morte que permeia toda a trama, ao mesmo tempo em que o elenco jovem entrega performances da mais alta qualidade. “Dias Vazios” é uma belíssima surpresa proporcionada por jovens talentos do cinema brasileiro.