“O NEVOEIRO” É METÁFORA ASSUSTADORA DE UMA AMÉRICA APAVORADA.

“O Nevoeiro” começa como um suspense convencional. Sugestionado pelo título, me lembro de “A Bruma Assassina”, que o eficiente John Carpenter dirigiu em 1980. Logo nas primeiras cenas vê-se até o protagonista, que é artista plástico, desenhando o pôster do filme “O Enigma do Outro Mundo”, dirigido por Carpenter. Chego a pensar que “O Nevoeiro” possa ser um remake de “A Bruma Assassina”. Não é.

Sem nenhum motivo aparente, um denso nevoeiro cai sobre uma pequena cidade do interior dos EUA, cortando todo e qualquer tipo de comunicação. Não se enxerga um palmo diante do nariz. Assustadas, as pessoas correm até o supermercado, para estocar alimentos. A situação piora quando um morador, com rosto e camisa cheios de sangue, diz ter sido “atacado” pela neblina.
Instaura-se dentro daquele mercado – onde a maior parte da ação se desenvolverá – um misto de medo e incredulidade.
A partir daí, “O Nevoeiro” assume ares daqueles deliciosos filmes de drive-in dos anos 50, tipo “A Bolha Assassina”. Ou seja: medo geral, ação ambientada numa cidadezinha interiorana, vários personagens quase todos principais, muito clima de horror e poucos efeitos especiais.

Porém, logo o diretor Frank Darabont (o mesmo de “Um Sonho de Liberdade”) começa a imprimir uma proposta mais ambiciosa ao seu filme. Ao criar naquele mercado (um tipo de Meca consumista) o próprio microcosmos da sociedade americana, ele une num único espaço cênico figuras representativas como os militares, os céticos, os heróis, a maioria silenciosa e até um poder paralelo instalado pelo fanatismo religioso. Todos estão lá, sem poder sair, sem – literalmente – enxergar a situação. É o retrato de um país acuado pelo medo.

Mas novamente o diretor surpreende, negando as desgastadas fórmulas convencionais do filme de terror comum. Quanto mais “O Nevoeiro” avança, mais ele prende o espectador até desembocar num final perturbador e sem concessões. Um soco no estômago.

Para contar esta história baseada num conto de Stephen King (sempre ele), Darabont se apóia num ótimo elenco encabeçado por Thomas Jane (“O Justiceiro”) no papel do homem comum que de um segundo para o outro é obrigado a tomar a liderança de uma situação aterrorizante. Com ele estão o surpreendente Toby Jones (o Truman Capote de “Confidencial”), e a veterana Marcia Gay-Harden (“Sobre Meninos e Lobos”) como uma fanática religiosa.

Quem gosta de filmes de terror não pode perder “O Nevoeiro”, um dos melhores do gênero nos últimos anos. E quem não gosta deve arriscar uma olhada e, quem sabe, passar a gostar.