O NOME É RUIM, MAS “PROMESSAS DE UM CARA DE PAU” AGRADA.

Inacreditável como a distribuidora conseguiu criar um poster promocional e um título que quase nada tem a ver com o filme em questão. Por isso, esqueça o poster, esqueça o título, e curta o simpático “Promessas de um Cara de Pau”, filme que satiriza, entre outras coisas, um dos mistérios mais indecifráveis da humanidade: o sistema eleitoral norte-americano. Alguém entende aquela história de prévias, delegados e colegiados? Alguém explica como a nação que se auto-denomina “a mais democrática do mundo” tem um sistema de votação que não é exatamente direto e universal?

Bom, de qualquer maneira, o filme tem um ponto de partida bem interessante. Através daquelas situações que somente o cinema (e o sistema eleitoral americano) consegue proporcionar, a corrida presidencial dos EUA termina rigorosamente empatada. Porém, falta contabilizar um único voto, vindo de uma cidadezinha perdida no meio do deserto. O destino do País está nas mãos de um único eleitor, um tal de Bud Johnson (Kevin Costner), um homem irresponsável, preguiçoso, e que não acredita em política.

Por causa dos meandros da lei (só vendo o filme para entender), Bud tem dez dias para pensar o que fazer com o seu voto. Durante este período, o candidato democrata Donald Greenleaf (Dennis Hopper) e o atual presidente em busca da reeleição, o republicano Andrew Boone (Kelsey Grammer) literalmente acampam na cidadezinha fronteiriça de Texico, em busca do voto decisivo. O país inteiro pára.

“Promessas de um Cara de Pau” tem exatamente a mesma tocada das antigas comédias que Frank Capra fazia nos anos 30 e 40, visando elevar o moral do povo norte-americano em épocas de crise. Lembra muito “A Mulher Faz o Homem”. São fantasias humoradamente recheadas de cinismo, que buscavam prescrutar os valores positivos que porventura ainda estivessem escondidos na alma humana. Ainda que lá no fundo. Por isso mesmo guardam um melancólico tom de ingênuo saudosismo, e por vezes são acusadas de resvalar no piegas. Sem deixar a crítica social de lado.

Assim, para embarcar no estilo, é preciso deixar o ceticismo do lado de fora do cinema, e entrar no filme como se entra numa história de Papai Noel. Acredita-se ou não. E jamais se questiona se a barba branca está mal colada.

Quem embarcar sai do cinema recompensado. Quem acha que a política nada mais é que uma grande sujeira, sai do cinema irritado. Mesmo que esteja certo…