O ÓTIMO “PEQUENAS COISAS COMO ESTAS” – QUE BOM! – NÃO FOI INDICADO A NENHUM OSCAR.

Por Celso Sabadin.

Outro dia escrevi, brincando (pero no mucho), que estava com muita vontade de ver um filme sem nenhuma indicação ao Oscar, para me desintoxicar destes últimos meses em que não se falou de outra coisa, no mundo do cinema.

E realmente vi. E gostei demais. Trata-se de “Pequenas Coisas Como Estas”, uma coprodução entre Irlanda, Bélgica e EUA que chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira, 13/03.

A partir de casos reais, o roteiro do irlandês Enda Wash, baseado no livro de sua conterrânea Claire Keegan, denuncia como comunidades católicas se encarregavam, clandestinamente, de punir e excluir da sociedade jovens que engravidavam fora do casamento. Não, não na Idade Média, mas na Irlanda dos anos 1980 e 90, um país profundamente marcado por conflitos que se autoproclamam “religiosos”.

O fio condutor da narrativa é Bill Furlong (Cillian Muprhy, ótimo), um conhecido vendedor local de madeira e carvão que inadvertidamente descobre as atrocidades, e entra numa forte crise de consciência, sem saber como – e se – denunciar os crimes.

Além de fazer com que o protagonista mergulhe em seus valores internos, a situação também provoca uma dolorosa revisão do passado de Furlong.

O belga Tim Mielants desenvolve um excelente trabalho de direção no ótimo roteiro. Trabalha com uma maravilhosamente angustiante fotografia escurecida assinada por Frank van den Eeden (premiado por “Close”), uma direção de arte primorosa, e brinda seu protagonista com generosos closes através dos quais o espectador é praticamente convidado a partilhar de seus pensamentos silenciosos. O ritmo cadenciado da montagem, potencializando os momentos de suspense, também é notável.

 

Uma curiosidade: Cillian Murphy apresentou o projeto de  “Pequenas Coisas Como Estas” para os conhecidos atores e produtores Matt Damon e Ben Affleck, durante as filmagens de “Oppenheimer”. A dupla acabou fazendo a produção executiva do longa.