“O PAÍS DA PORNOCHANCHADA” É AQUI E AGORA.

Por Celso Sabadin.
Na época da ditadura civil-militar de 1964 (sim, é injusto debitar aquela ditadura apenas aos militares), os patriotas da vez diziam que “o Brasil é o país do futuro”. E os mais conscientes completavam: “E sempre será”.
Não sei se o Brasil será eternamente o país de um futuro que jamais chegará para nós, mas uma coisa é certa: somos, sim, o país da pornochanchada. Aliás, não só da pornochanchada, como da chanchada, da neo-chanchada, da pós-chanchada, da globochanchada, da chanchada da hora.
A palavra vem do espanhol, “chancho”, que significa porco. Quando Oscarito, Grande Otelo & companhia começaram a arrecadar as maiores bilheterias da história do cinema brasileiro com suas comédias produzidas na Atlântida, a nossa bastante conhecida elite – que não suporta ver pobre feliz – logo se apressou em batizar aquele tipo de humor de ”chanchada”, porcaria.
Mais tarde, já na ditadura, as comédias brasileiras passaram a explorar o filão do erotismo, e novamente as elites arrumaram um jeito pejorativo de descredenciá-las, rotulando-as moralisticamente de “pornochanchadas”. Que de “porno” nada tinham.
A história, conhecida, ganha agora uma releitura das mais bem-vindas, na visão do roteirista e diretor Adolfo Lachtermacher, realizador deste delicioso “O País da Pornochanchada”. Adolfo é filho de Saul Lachtermacher (1926 – 1982), que por sua vez foi roteirista, diretor e produtor de comédias eróticas, nas décadas de 60 e 70.
Como linha narrativa de seu longa, Adolfo utiliza o sempre atrativo recurso da “busca do filme perdido”, mais precisamente um obscuro “Com a Minha Viúva, Não”, dirigido por seu pai, e teoricamente desaparecido para sempre. O filme, não o pai.
Tal busca acaba se configurando em um pretexto para Adolfo investigar as origens, histórias, preconceitos e caminhos percorridos pela pornochanchada, tomando ainda o cuidado de atualizar o tema, contextualizando-o com estes novos tempos de Brasil chanchadeiro governado nos últimos quatro anos por personagens que parecem ter saído diretamente do que existe de pior do humor misógino, machista, e caricato da banda podre das nossas comédias.
O resultado é um documentário que não apenas faz um importante registro do nosso passado cinematográfico, como também relaciona este tempo com o retrocesso humano pelo qual estamos passando, reacendendo antigos – porém eternos – traços sociais preconceituosos que ingenuamente julgávamos ter sufocado com o final da ditadura.
“O País da Pornochanchada” chega aos nossos cinemas nesta quinta, 7/12.