O PERTURBADOR “MINHA FELICIDADE” MOSTRA O DESENCANTO DA CIVILIZAÇÃO.

Antes de mais nada, vale a advertência: o título “Minha Felicidade” é irônico. Nada mais cruel e sem “felicidade” que a trajetória de Georgy, o caminhoneiro que esboça a linha narrativa do filme. Ao parar num posto de fiscalização, o lacônico Georgy se depara com uma dupla de policiais corruptos, dos quais consegue fugir sem ser notado. Ele acaba dando uma carona meio compulsória a um estranho que lhe conta uma terrível história, também regada à corrupção, passada na 2ª Guerra. Não espere um filme fácil e linear. “Minha Felicidade” traz uma narrativa que se assemelha a um pesadelo, mesclando histórias de hoje e da Guerra, todas de extrema crueldade e de uma virulência perturbadora.

Há entre as diversas situações um fio condutor de atrocidades que radiografam a alma humana no que ela tem de pior, da covardia a traição, da ganância à frivolidade. Dentro de uma realidade onde um casaco pode valer mais que uma vida, e onde cadáveres são escondidos sem cerimônias, é dolorosa a visão que o roteirista e diretor bielorusso Sergei Loznitsa (documentarista estreando na ficção) destila de sua cultura atolada em amoralidade e burocracia. Não são poucas as cenas em que se pedem “documentos”. E todas elas deságuam em violentos desmandos.
Tudo filmado com uma crueza estética totalmente compatível com a dureza do tema.

No perturbador filme de Loznitsa, não é apenas seu personagem que perde o rumo. É toda a Humanidade.