O PERUANO “OUTUBRO” ESTREIA COM INTROSPECÇÃO, CRUELDADE e QUALIDADE.

Rara chance para se apreciar um filme peruano nos cinemas brasileiros. E um filme de qualidades. “Outubro” narra o árido cotidiano do calado e solitário Clemente, um homem que ganha a vida praticando agiotagem e comprando objetos de (algum) valor de pobres desesperados a procura de dinheiro rápido. Um personagem que lembra em determinadas cenas o vivido por Selton Mello em “O Cheiro do Ralo”. Um homem que de clemente não tem nada.

Sua vida é marcada pela mesquinharia. Os tons marrons da fotografia e a direção de arte “suja” e de aspecto decadente reforçam e complementam a personalidade deste protagonista que se satisfaz com prostitutas de última categoria. As cenas de sexo chegam a transmitir algo de crueldade.

Até o dia em que um bebê é abandonado em sua porta… e Clemente não dá a mínima… Porém, de alguma forma aquela criança consegue mexer com as vidas das pessoas próximas. No mês de um popular santo local, ela tem o poder de aglutinar em torno de si uma espécie de família bizarra, composta por pessoas que tem muito pouco, quase nada, a se apegar.

Dentro de um estilo similar ao de bons trabalhos uruguaios como “Gigante” e “Uísque”, “Outubro” traz pouquíssimas palavras, poucos cenários e locações, e muita reflexão. O filme marca a estréia dos irmãos Diego e Daniel Vega Vidal no roteiro e na direção de longas, e ganhou o Prêmio do Júri na prestigiada mostra “Un Certain Regard”, no Festival de Cannes.