“O PODER DA VOZ” FALA (GROSSO) SOBRE A VIDA.  

Por Celso Sabadin.

No drama alemão “O Poder da Voz”, Max Baumbacher (vivido pelo austríaco Tobias Moretti) é um ator de segunda categoria que se torna nacionalmente famoso como apresentador de um talk show televisivo de muito sucesso, na Alemanha. Até que o dia em que ele acorda com uma profunda transformação em sua voz. E esta disfunção o torna ainda mais famoso, requisitado… e perturbado.

O roteiro de Gregory Kirchhoff, também diretor do filme, parte da conhecida premissa – bastante utilizada principalmente em obras que flertam com o fantástico – do detalhe externo que altera substancialmente a personalidade interna do protagonista. Mal comparando, algo como um Cyrano de Bergerac, por exemplo. Lembrei-me também de uma excelente crônica de Luís Fernando Veríssimo sobre um homem respeitado que tem sua vida destruída só porque, de um dia para outro, passou a usar um nariz de palhaço.

No caso de “O Poder da Voz”, o mote pode não ser exatamente uma novidade, mas a direção é cativante, de uma sobriedade das mais bem-vindas que conquista rapidamente o espectador, inserindo-o na trama com rara habilidade. O arco dramático do protagonista, obrigado pela adversidade a rever sua vida e seus valores, não cai no sentimentalismo raso que tal tema poderia facilmente proporcionar, e a divisão da narrativa em tempos distintos fora da ordem cronológica é feliz em criar a necessária empatia com o público. Kirchoff consegue até inserir alguns bons momentos cômicos no enredo basicamente dramático, sem perder a densidade, nem a unidade da obra. E ainda com direito a belas locações nas ilhas Baleares, na Espanha.

Premiado como melhor filme no Snowdance Festival, “O Poder da Voz” estará disponível a partir desta quinta, 29 de julho, na plataforma Cinema Virtual.