O PODER DOS DONOS DA IMAGEM EM “VISÕES DO IMPÉRIO”.

por Celso Sabadin.

Como diz o ditado, enquanto o leão não souber escrever, prevalecerá sempre a versão do caçador. Especificamente sobre “Visões do Império”, pode-se dizer que, enquanto as colônias não souberem fotografar, prevalecerá sempre a visão da metrópole.

O longa –  em cartaz na 45ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo – é fruto de um minucioso trabalho de pesquisa da psicóloga, historiadora e documentarista portuguesa Joana Pontes. Sua primeira intenção era mapear a construção da imagem imperial de Portugal através de fotografias de suas colônias. A cineasta inicia sua pesquisa em feiras de antiguidades em Lisboa – onde é possível encontrar uma grande quantidade de fotos da era colonial – passando depois para diversos arquivos históricos oficiais, onde seu trabalho assume proporções cada vez mais profundas e intrigantes.

Conduzindo suas descobertas em paralelo com os espectadores, “Visões do Império” não demora a revelar o uso político da fotografia como instrumento de manutenção do poder colonial, manipulando imagens tanto para construir um falso ideário de harmonia com os povos dominados, como para ludibriar as pressões econômicas e sociais dos britânicos, os donos do mundo naquela época.

O levantamento traz material desde 1860 – quando a fotografia ainda dava seus primeiros passos – até a década de 1960, quando a então metrópole mantinha relações de extrema violência com Angola e Moçambique.  É uma secular “encenação da soberania”, como bem define um dos depoentes do filme sobre o manipular de imagens empreendido pelo governo central.

É a tradicional conclusão de sempre, em vigor até os dias atuais:  quem domina a linguagem da comunicação encobre melhor suas atrocidades.

Cinematograficamente, “Visões do Império” é clássico e convencional, mas sob vários outros pontos de vista – histórico, humano, etnográfico, antropológico, político – é uma pequena preciosidade a ser descoberta por qualquer um que se interesse pela história do século 20, e principalmente pelos nossos históricos colonizadores.

“Visões do Império” está na programação da 45ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, em cartaz até 3 de novembro. Saiba mais em https://45.mostra.org