O POVO É O ASTRO DE “A REVOLUÇÃO EM PARIS”.

Por Celso Sabadin.

“Somos obrigados a ouvir estes pobres?”, pergunta um nobre participante da nova assembleia francesa, agora forçada pela revolução a acolher a opinião popular. A cena do filme “A Revolução em Paris” é bastante representativa dos novos rumos tomados pelo país após os históricos eventos de 1789.

Participante do Festival Varilux, “A Revolução em Paris” não é exatamente um filme sobre a Revolução Francesa como um todo, como talvez o título possa sugerir, mas sim um enfoque mais específico sobre como os primeiros anos do evento repercutiram na capital, principalmente sob o ponto de vista do povo, e não dos líderes, como geralmente acontece. Saem de cena Robespierre, Danton e outros nomes já bem incensados e entra o trabalhador comum, de mãos calejadas, roupas esfarrapadas e uma vontade férrea de justiça social.

O resultado é um filme vigoroso que retrata a questão da luta de classes com ânimo renovado, total contemporaneidade, e uma intensa beleza plástica/cinematográfica que sublinha com louvor a euforia narrativa dos novos tempos revolucionários. Adèle Haenel (de “A Garota Desconhecida”) entrega uma atuação luminosa, e a cena das pedras da Bastilha sendo derrubadas e abrindo espaço para os raios de sol entrarem no bairro operário já pode ser considerada antológica.

O roteirista e diretor Pierre Schoeller, que já havia visitado o tema ()ainda que sob perspectivas bem diferentes) em “O Exercício do Poder” e “Versailles”, recebeu por este seu novo filme indicações ao César de direção de arte e figurino. Merecia bem mais.