O PREMIADO “TRANSEUNTE” ENTRA EM CARTAZ.

Transeunte é o primeiro longa de ficção de Eryk Rocha, filho do famoso Glauber. Impossível não usar o aposto. Mesmo porque a inquietação, o inconformismo e a veia criativa parecem estar no DNA do cineasta. Totalmente rodado num belíssimo preto e branco, Transeunte narra o cotidiano de Expedito (Fernando Bezerra, ótimo), um homem solitário que vive seus primeiros dias de aposentadoria num antigo e pequeno apartamento no centro do Rio de Janeiro.

A câmera de Rocha acompanha Expedito contemplativa, lenta e silenciosamente. O público é convidado a mergulhar no universo deste protagonista que tem um tempo totalmente próprio, isolado do ritmo da cidade grande que, mais que o rodear, o cerca.

Contrariamente ao significado de seu próprio nome, Expedito não tem pressa. O filme também não. De sua janela ele observa uma gigantesca, barulhenta e poeirenta obra que resultará em três empreendimentos imobiliários. Ele nem liga. Ou diz não ligar. Caminha longamente pelas ruas ouvindo trechos de conversas alheias, fragmentos de programas populares de rádio e deliciosas músicas de dor de cotovelo que divide com cantores anônimos num pequeno sarau noturno promovido por um acolhedor boteco. Para onde vai Expedito? Para onde vai o filme?

O público que se propuser a viajar na proposta intimista de Eryk será brindado com uma belíssima obra cinematográfica de grandes planos, bela fotografia do franco-uruguaio Miguel Vassy (fotógrafo também de Waldick, Sempre no Meu Coração) e um nada menos que genial trabalho de trilha sonora (do cearense Fernando Catatau), elemento fundamental dentro da própria dramaturgia do filme.

Transeunte vem conquistando o público nos festivais por onde passa. Merecidamente: o filme é Cinema na verdadeira e maior acepção da palavra.