“O PROCESSO”. QUEM DISSE QUE O BRASIL NÃO SABE FAZER FILME DE HORROR?  

Por Celso Sabadin.

Os bastidores da política brasileira são tão dramáticos e surreais, tão repletos de personagens improváveis e viradas inacreditáveis de roteiro, que basta apontar uma câmera para os acontecimentos que logo teremos diante de nós um filme dos mais criativos e interessantes. No caso de “O Processo”, um filme de horror. Sem depoimentos, sem narrações, e principalmente sem panfletarismos baratos, “O Processo” mostra os caminhos do golpe de estado que assolou o Brasil há dois anos, jogando o país na triste situação atual.

Para realizar o filme, a diretora Maria Augusta Ramos mergulhou nos corredores, salas e antessalas da podridão dos poderes que comandam a Nação. Com uma câmera observadora e não raro intimista, a cineasta acumulou 450 horas de material bruto que registram os discursos, depoimentos e articulações políticas de ambos os lados – legalistas e golpistas – que culminaram no impeachment da então presidente Dilma.

“O Processo” é uma oportunidade para ver, rever e até tentar entender os caminhos do golpe. E, obviamente, lamentar. Há inclusive uma dose de masoquismo em revisitar este momento tão triste de nossa História.

O filme venceu o prêmio de melhor longa-metragem internacional no Festival Documenta Madri, além do Prêmio Silvestre e o Prêmio do Público de melhor longa-metragem no Festivatl Indie Lisboa, e o de Melhor Longa Metragem na Competição Internacional do Festival Internacional de Documentários Visions du Reel em Nyon, na Suíça.

A carreira da diretora inclui os longas premiados “Futuro Junho” (2015), “Seca” (2015), “Morro dos Prazeres” (2013), “Juízo” (2007), “Justiça” (2004) e “Desi” (2000).

Estreia em 17 de maio.