“O PROFESSOR SUBSTITUTO”: DESCONCERTANTE.

Por Celso Sabadin.
 
Antes de mais nada, é bom esclarecer: apesar do que possa sugerir o título em português, “O Professor Substituto” não tem nenhuma relação com aqueles filmes de mensagens edificantes estilo “Ao Mestre com Carinho”. Muito pelo contrário. Seu título original é “L´Heure de la Sortie” (a hora da saída, em tradução livre), e trata-se de um tenso suspense dramático-psicológico. E dos mais interessantes.
 
Baseado no livro “L’heure de la sortie” (romance de estreia de Christophe Dufossé, publicado em 2002), o filme é ambientado em um colégio francês de classe alta. É ali que Pierre (Laurent Lafitte, o Rei Luís XVI do recente “Uma Revolução em Paris”), o tal professor do título brasileiro, recebe a difícil tarefa de substituir um colega que acabou de se suicidar. A princípio, Pierre se sente seguro em lidar com as prováveis inseguranças de uma turma de jovens traumatizada pelo suicídio. Para sua surpresa, porém, seus alunos não apresentam nenhum sinal de insegurança. Ao contrário: prepotentes, eles desafiam o novo mestre à exaustão, e não hesitam em se embrenhar por caminhos extremos para provar seus pontos de vista.
 
O filme tem, no mínimo, dois grandes méritos. O primeiro é abordar com vigor e crueldade o grande e desesperado vazio existencialista que tem multiplicado as estatísticas de suicídio e automutilação de toda uma geração de jovens tomados pelo tédio. O tema é urgente e importante. E o segundo é a sobriedade da direção de Sébastien Marnier neste seu segundo longa (o primeiro é “Irrepreensível”), que não cai nas tentações facilitadoras dos clichês dos suspenses convencionais, e realiza aqui um trabalho repleto de densidade dramática e tensão narrativa. Com direito a um final genial e a uma inquietante trilha da banda francesa Zombie Zombie.
Desconcertante.