“O PROTOCOLO DE AUSCHWITZ”: OMISSÃO TAMBÉM É BARBÁRIE.

Por Celso Sabadin.

Difícil – praticamente impossível – falar do ótimo “O Protocolo de Auschwitz” sem dar spoiler. Isto porque o verdadeiro cerne do filme, o real motivo que de fato justifica e valoriza sua existência acontece em seus últimos 15 minutos.
Explicando melhor, então, com spoilers, “O Protocolo de Auschwitz” é um drama de guerra, baseado em fatos, sobre a saga de dois prisioneiros eslovacos que – contra todas as probabilidades – conseguem fugir do campo de concentração que dá nome ao filme.

Empreendida finalmente a difícil fuga, ambos denunciam à Cruz Vermelha Internacional as atrocidades ali cometidas, pois vale lembrar que todo o horror dos campos nazistas só foi de fato revelado após o término da Guerra. A grande questão que o filme estarrecedoramente levanta é que o relatório preparado pelos jovens eslovacos (o “Auschwitz Report” do título internacional) simplesmente foi ignorado pela Cruz Vermelha. Não cabe ao filme explicar exatamente os motivos da recusa – se foi político ou não – mas denunciar como a omissão humana pode ser tão desastrosa quanto a barbárie. Se as denúncias dos fugitivos tivessem sido levadas a sério no momento em que foram efetivadas, provavelmente milhares de vidas seriam poupadas. Isenção também é crime.
O maior estranhamento que “O Protocolo de Auschwitz” pessoalmente me causa fica por conta da estrutura de seu roteiro: os primeiros 75 minutos do filme são dedicados à fuga dos prisioneiros. Tudo muito bem produzido, tenso, cruel, cinematograficamente vigoroso e eficiente. Porém, ficam sobrando apenas os últimos 15 minutos para a abordagem do tema que realmente seria o mais instigante em todo o contexto.

Ah, importante: não desligue o filme nos créditos finais. Há uma tristíssima surpresa para nós, brasileiros.

Coproduzido por Alemanha, Eslováquia, Polônia e República Tcheca, “O Protocolo de Auschwitz” foi o filme escolhido pela Eslováquia para representar o país no Oscar 2021. A direção é de Peter Bebjak com roteiro do próprio diretor em parceria com Tomás Bombík e Jozef Pastéka a partir do livro de Alfred Wetzler, um dos fugitivos retratados no filme.
Disponível em plataformas digitais a partir de 8 de abril.