O PROVOCANTE “LEÕES E CORDEIROS” MEXE NA FERIDA DA GUERRA DO IRAQUE

Provavelmente a maioria das pessoas ainda não parou para pensar que o conflito entre EUA e Iraque já dura mais que a Segunda Guerra Mundial. E que certamente não vai terminar tão cedo. É justamente este o maior mérito do filme “Leões e Cordeiros”: fazer com que as pessoas parem e pensem. Pensem no absurdo desta guerra fabricada, pensem na função de cada indivíduo dentro da sociedade, pensem no papel da mídia. Ou seja, dirigido e interpretado por Robert Redford, “Leões e Cordeiros” propõe exatamente o contrário da maioria dos filmes norte-americanos: pensar. O que é coerente com a longa carreira de Redford, sempre associada a trabalhos ligados a causas políticas e humanitárias.
O belíssimo roteiro do quase estreante Matthew Michael Carnahan (ele só havia roteirizado anteriormente “O Reino”, com Jamie Foxx) propõe três situações distintas, desenvolvidas em três locais diferentes, mas no mesmo tempo. Na primeira, passada em Washington, a conceituada jornalista Janine (Meryl Streep) consegue uma entrevista exclusiva de uma hora de duração com o jovem senador Irving (Tom Cruise). Na segunda, ambientada na Universidade da California, o experiente professor Malley (Redford) também concede uma hora, a portas fechadas, com o jovem Todd (Andrew Garfield), aluno brilhante, mas totalmente desmotivado. E na terceira, acontecida em algum lugar do Afeganistão, os soldados Ernest (Michael Peña) e Arian (Derek Luke) lutam desesperadamente pela sobrevivência.
Estas três situações vão se entrelaçando no decorrer da trama para formar um instigante painel da sociedade americana, onde se vêem claramente representados o jornalismo, a política, o exército, a escola, a juventude classe média alta, e a juventude menos favorecida. Todos discutindo, basicamente, duas questões perturbadoras: o que significa esta guerra contra o Iraque e qual é, afinal, o papel de cada um dentro desta insanidade.
Como se percebe, “Leões e Cordeiros” não é um mero entretenimento. Bastante verbal (a primeira idéia do roteirista era escrever uma peça de teatro) ele exige atenção plena do espectador, mas recompensa o esforço com diálogos brilhantes, uma ótima discussão política, e interpretações memoráveis. Até Tom Cruise, no papel do político empertigado, se sai bem.
O filme não se propõe a apontar respostas, mas sim a incomodar com as perguntas. O que é muito mais interessante e provocativo tanto para quem gosta de cinema, como para quem não dispensa uma boa argumentação para um dos temas mais absurdos dos últimos anos: os US$ 12,5 milhões por hora (é isso mesmo, por hora!) que a Casa Branca gasta na Guerra do Iraque.
Veja, e pense.