“O QUE SE MOVE” É OBRA-PRIMA DO CINEMA BRASILEIRO. SIMPLES ASSIM.

O Que Se Move
Por Celso Sabadin
Sempre me perguntam por que, de uma forma geral, crítica e público tem gostos diferentes. Também de uma forma geral, respondo que o crítico vê filmes todos os dias, e adora ser surpreendido com linguagens e/ou propostas inovadoras, enquanto o público prefere a segurança do que já é conhecido por ele. De uma forma geral, é claro.

Neste sentido, foi com um imenso prazer que fui favoravelmente surpreendido com a proposta inovadora do belíssimo drama “O Que Se Move”. Estreia na direção de Caetano Gotardo, conhecido em festivais pelos seus elogiados curtas, “O Que Se Move” é o tipo do filme sobre o qual não convém falar muito, nem ler sinopses, muito menos ver trailer. Seu tema básico é a perda familiar, assunto dos mais duros e cruéis, enfocado aqui de maneira extremamente pungente, dolorida, pode-se dizer até estilizada, e jamais piegas.

“O Que Se Move” já entra imediatamente na lista dos grandes filmes brasileiros dos últimos anos não apenas porque sua proposta é inovadora, não. Muitos inovam, mas não conseguem resultados satisfatórios, acreditando que a vanguarda pela vanguarda já seria o suficiente. O que não é, definitivamente, o caso do filme de Gotardo. Apoiando-se sobre um elenco fantástico e não tendo o mínimo receio em ampliar aos extremos os tempos cinematográficos de reflexão, “O Que Se Move” ainda exibe a ousadia de contar parte de sua história através das mais doloridas canções que o cinema ouviu recentemente.

Ao apresentar o filme no palco. No Festival de Gramado do ano passado, a produtora Sara Silveira pediu que o público tivesse “paciência” para apreciar o trabalho de um cineasta que ela classificou como “corajoso”. Talvez os olhares mais ansiosos deste nosso tempo multimídia tenham de fato alguma dificuldade para entrar no ritmo proposto por Gotardo. Mas quem se dispuser a fazê-lo, de coração aberto, será recompensado com uma verdadeira obra prima. Nos dois sentidos da expressão: preciosidade e primeira. A coragem do diretor, enfatizada pela cineasta, é um dos maiores trunfos deste filme que já nasce vencedor.

Para o grande público, que acompanha os festivais brasileiros apenas pela grande mídia, vale lembrar informar que Caetano Cotardo faz parte do coletivo “Filmes do Caixote”, que inclui realizadores como Juliana Rojas, Daniel Turini e Marco Dutra. São jovens cineastas que se revezam em variadas funções nas obras de seus colegas. Por exemplo, a direção de fotografia de “O Que Se Move” é assinada por Heloísa Passos e a montagem é de Juliana Rojas (de “Trabalhar Cansa”), da mesma forma que as canções originais são assinadas por Marco Dutra (também de “Trabalhar Cansa”) e do próprio Gotardo, que também assina o roteiro.

O elenco é formado por Cida Moreira, no papel de Maria Júlia (que volta ao cinema após alguns anos dedicando-se apenas à carreira musical), Dagoberto Feliz (Afonso), Wandré Gouveia (Pedro), Ane Rodrigues (Tereza), Marina Corazza (Marina), Andrea Marquee (Silvia), Rômulo Braga (Eduardo), Larissa Siqueira (Larissa), Fernanda Vianna (Ana), Henrique Schafer (João), Adriana Mendonça (Cecília), Gabriel do Reis (Antônio), e Beto Matos (Ricardo), entre outros.
Prepare uma caixa de lenços e confira.