O QUEBRA-CABEÇAS ÉTNICO DE “BAGDÁ VIVE EM MIM”.

Por Celso Sabadin.

Por que Taufiq (Haitham Abdel-Razzaq), um humilde poeta e guarda noturno do Museu Britânico, estaria sendo interrogado por funcionários altamente qualificados da inteligência inglesa? E por que o jovem Nasseer (Shervin Alenabi), sobrinho de Taufiq, também é capturado pela polícia? Como um simpático, inofensivo e aconchegante café londrino administrado por uma família iraquiana entra neste panorama? E o que a inesperada visita do adido cultural de Bagdá em Londres (Ali Daim Mailiki) teria a ver com todos estes personagens?

É com este formato de um intrigante quebra-cabeças que  “Bagdá Vive em Mim” estreia no Brasil nesta quinta, 2 de setembro. Produzido por Inglaterra, Alemanha e Suíça, o longa apresenta uma estrutura fragmentada, narrada fora da ordem cronológica, cujas peças só se encaixarão por completo nas cenas finais. Ao abordar vários níveis de relações de refugiados e imigrantes iraquianos em suas novas vivências na capital inglesa, “Bagdá Vive em Mim” lembra os bons filmes de espionagem internacional escritos por Jean-Claude Carrière, ao mesmo tempo em que eventualmente tropeça em alguns maneirismos excessivos (o longa, por exemplo, tem mais pomba voando em câmera lenta que os filmes do Ridley Scott). No cômputo geral, acaba se mostrando um entretenimento acima da média, com direito a denúncias sociais, políticas e religiosas.

Com direção e roteiro do premiado cineasta iraquiano radicado na Suíça que assina simplesmente como Samir, “Bagdá Vive em Paris” foi escolhido como melhor filme no Festival de Washington, e escolhido como o de melhor montagem no Swiss Film Prize.

Segundo o diretor, “embora a Internet agora dê a todos a oportunidade de saber sobre tudo, o avanço da proliferação das redes levou a um florescimento de preconceitos sobre «estranhos» e «outros». É quase impossível para muitas pessoas, mesmo liberais, imaginar que a maior parte do povo de um país islâmico tem tanto ou tão pouco a ver com religião quanto eles. Por outro lado, a pressão das forças religiosas no mundo árabe, tornaram-se tão fortes que obrigam os modernos e liberais a parar de se expressar, mesmo que vivam uma vida aberta”, conclui.