“O REI DE ROMA” FAZ COMÉDIA COM PODER E CORRUPÇÃO.

Por Celso Sabadin.

Tempesta (Marco Giallini) é um mega milionário italiano que vive no luxo e na solidão de grandes hotéis que ele próprio compra para poder revendê-los com altos lucros mais tarde. Especulador, Tempesta nada produz. Apenas arma esquemas com investidores, fundos e jogos de interesses financeiros. Enfim, um verdadeiro pária social.

Logo nos primeiros minutos do filme, “surpresa”:  o sujeito é corrupto! Oh! E desta vez seus advogados não conseguiram comprar os juízes de sempre, com supremo e tudo. Ou até conseguiram parcialmente, fazendo com que a pena de prisão fosse abrandada para prestação de serviços comunitários. É neste momento que se inicia a linha narrativa central do filme, com o corrupto milionário sendo obrigado a passar seu tempo numa instituição para sem teto carentes.

É neste momento também que o nosso olhar colonizado pela Sessão da Tarde já imagina o que vai acontecer: a pureza de sentimentos dos mais pobres vencerá a frieza do vilão, que até o final do filme passará por um edificante processo de redenção, descobrindo que os verdadeiros valores da vida são muito mais preciosos que a sua fortuna.

Só que não!

Só que não estamos na Sessão da Tarde, só que o filme não é norte-americano, e só que o mundo mudou muito para que as plateias ainda engulam tais historinhas. Em “O Rei de Roma”, como na vida, é muito mais fácil (e plausível) o milionário inescrupuloso corromper dezenas de pessoas simples que o improvável contrário. Afinal, estamos na Itália, país que rivaliza com o nosso Brasil nos quesitos maracutaia, corrupção e injustiça. Que perde da gente, perde, mas rivaliza.

O roteiro é um pouco desconjuntado, não raro perdendo o caminho e o foco do que efetivamente deseja desenvolver. Um desequilíbrio corroborado pela direção do festejado Danielle Luchetti (habitué concorrente em Cannes na última década) que parece tentar compensar as falhas estruturais da obra com cenas que se apoiam numa ostentatória direção de arte para espelhar a grandiosidade da fortuna e do poder do protagonista.  Algumas subtramas se apresentam com boas promessas dramatúrgicas – como a das prostitutas estudantes de Psicologia, e o do pai de Tempesta – mas acabam não encontrando um desenvolvimento satisfatório.  O resultado acaba sendo irregular, mas mesmo assim meritório por resistir às soluções que soariam mais fáceis, e mais palatáveis ao grande público, propondo reflexões diferenciadas sobre as nossas tão familiares questões da corrupção e dos abismos sociais.