“O RETORNO”, PARA VER DE CORAÇÃO E OUVIDOS BEM ABERTOS.

Dizer que nada muda neste país é fácil. Provar, já é uma tarefa bem mais difícil. Tarefa que o cineasta Rodolfo Nanni executa com precisão em seu documentário “O Retorno”, um belo trabalho de pesquisa e fôlego que merece ser conferido nos cinemas.

Para buscar a gênese do filme é preciso retornar até 1958, ano em que Nanni, juntamente com Josué de Castro, realizou o documentário “O Drama das Secas”. Naquela época, exatamente no ano em que o Brasil comemorava sua primeira Copa do Mundo de Futebol e o país vibrava com a chegada da Bossa Nova, nosso sertão nordestino parecia um mundo a parte, esquecido por todos, castigado pela seca. Agora, meio século depois, Nanni volta à região investigada em seu filme anterior, e chega a triste conclusão que quase nada mudou. Talvez, nada.

São pequenos agricultores que lutam pela sobrevivência de suas famílias através da milenar cultura de subsistência, onde o homem tira da terra apenas o mínimo necessário à sua vida. Quando consegue viver. Questões básicas como moradia, saúde e educação, por ali são verdadeiros luxos.

O cineasta consegue manter com seus entrevistados laços que superam a relação documentarista/documentado. Há afeito no ar. Carinho. O que contribui de forma decisiva para que “O Retorno” trace seus próprios rumos, distanciando-se dos formatos convencionais do gênero.
No filme, a força das imagens ganha uma poderosíssima aliada: a magnífica trilha sonora de Anna Maria Kieffer, composta a partir de antigas cantigas ibéricas, onde a água funciona como metáfora da vida. Cria-se, através de vozes e instrumentos musicais da região, uma trama musical hipnótica, que remete o filme a um clima de sonho poético. São rabecas, pífanos, sanfona, violas de várias épocas, percussão, além de arrepiantes momentos onde a voz humana é utilizada sob forma tradicional dos cantadores e aboiadores.
“O Retorno” foi o vencedor dos prêmios de melhor direção e melhor fotografia da 12º edição do Cine PE – Festival de
Pernambuco.
É mais um grande momento do documentário brasileiro.