O SABOR REQUENTADO DE “ALIEN: COVENANT”.  

Por Celso Sabadin.

Coitado do Richard Wagner. Quando ele morreu, Hitler ainda nem tinha nascido, e mesmo assim o famoso compositor alemão é, até hoje, associado ao nazismo. É a música que Wagner que pontua – no início e no final de “Alien: Covenant” – as referências às práticas nazistas empreendidas pelo seu vilão, como engenharia genética em busca do aperfeiçoamento da raça, autoritarismo, violência, belicismo, e a eterna vontade de brincar de Deus. Vilão, aliás, encarnado com eficiência pelo alemão Michael Fassbender.

Não que “Alien: Covenant” seja um filme que prime pela crítica política. O novo trabalho do veterano Ridley Scott – que completa 80 anos no próximo novembro – se apoia muito mais nas fórmulas comerciais da ação e da aventura. Mas não deixa de dar seu pitaco político.

A trama se passa 10 anos depois de “Prometheus”, e mostra a nave colonizadora Covenant rumo a Origae-6, o distante planeta que será colonizado pelos humanos. Porém, algo dá errado em sua jornada prevista para sete anos de viagem, vários de seus tripulantes precisam ser acordados de seus sonos criogênicos, a nave passa por uma crise de comando, e os problemas em série começam. O que se tem a seguir é uma sensação de “dejà vu”, de mais do mesmo, de tiroteios em profusão, a repetição das antigas formulazinhas do gênero, e a velha pitada de “discussão filosófica” sobre os limites da inteligência artificial, que Kubrick esgotou já em 1968.

Provavelmente o maior problema de “Alien: Covenant” seja o tempo. Não as mais de duas horas de duração do filme, mas os cinco anos que o separam de seu antecessor “Prometheus”. Foram cinco anos nos quais vimos “Interestelar”, “Gravidade”, “A Chegada”, “Passageiros” e até “Vida” (este claramente calcado em “Alien”), ou seja, filmes que de uma forma ou de outra elevaram nossas expectativas em relação ao cinema de ficção científica, e que consequentemente deixaram um sabor ultrapassado nos cânones da franquia “Alien”, que aqui se mostra repetitiva.

Muito se fala do talento  inegável, claro – do diretor Scott, um dos maiores responsáveis pelo grande sucesso de toda a série. Mas talvez se subestime aquele que foi de fato o grande criador da franquia, o já falecido Dan O´Bannon,  idealizador dos personagens, do argumento e do roteiro do Alien original. Faltou um pouco de O´Bannon em “Alien: Covenant”. Faltaram boas e novas ideias.