“O SINAL”: FILME NOIR MADE IN BUENOS AIRES

Provavelmente Ricardo Darín é o ator argentino mais popular no Brasil, principalmente em função do grande sucesso “O Filho da Noiva”, onde viveu o papel título. Darín, que atuou também em “O Mesmo Amor, a Mesma Chuva”, “Nove Rainhas”, no recente “XXY”, e em dezenas de produções argentinas, resolveu seguir o caminho trilhado por outros astros populares, principalmente norte-americanos, e partiu também para a direção. Seu trabalho de estréia, “O Sinal”, realizado a quatro mãos ao lado de Martín Hodara, pode não ser espetacular, mas também não faz feio.

A ação do filme é ambientada em 1952, ano da morte de Eva Perón. Numa Buenos Aires lindamente fotografada em tons pastéis, melancolicamente desbotados, Darín interpreta o detetive particular Crovalán. Ele e o sócio Santana (o ótimo Diogo Peretti, de “Não é Você, Sou Eu”) formam uma dupla de detetives particulares que parece ter saído diretamente de um velho filme de Humphrey Bogart. Cultuam Frank Sinatra, inserem expressões em inglês em seus vocabulários, e mandaram pintar no vidro da porta do escritório de detetive a inscrição “Métodos Norte-Americanos”.

Feita esta breve introdução, a partir daí acontece exatamente o que se espera que aconteça: uma linda morena, uma trama de amores e traições, um criminoso poderoso, etc. etc… Sim, “O Sinal” é uma escancarada declaração de amor ao cinema noir norte-americano dos anos 40. Com tudo o que tem direito: personagens dúbios, trilha à moda antiga, fotografia impecável, diálogos afiados. Tecnicamente, o filme enche os olhos. A grande pergunta, porém é: por que? Qual seria exatamente o propósito de se fazer, hoje, um filme nos padrões idênticos aos de 70 anos atrás, se o roteiro é banal, e o formalismo cinematográfico é totalmente datado? Talvez por exercício de linguagem, nada além disso. Muito pouco para justificar o preço do ingresso. Provavelmente quem fez o filme se divirta mais do que quem o assiste.

A nota triste de “O Sinal”, porém, fica por conta do diretor e roteirista Eduardo Mignogna, que se preparava para a dirigir o filme, quando veio a falecer, em 2006. Darín, já escalado para o papel principal, resolveu então assumir o projeto como diretor, fazendo assim desta sua estréia uma homenagem a Mignigna, cineasta internacionalmente premiado.