O SURPREENDENTE “NEGAÇÃO” QUESTIONA O HOLOCAUSTO JUDEU.

Por Celso Sabadin.

É impressionante como a vida – de forma direta – e o cinema – de forma indireta – continuam a apresentar fatos surpreendentes, mesmo quando se tem a sensação que “nada mais surpreende”. O filme “Negação” traz uma boa dose desta imponderabilidade que de vez em sempre desafia os limites do inacreditável. Não pelo filme em si, que, diga-se, é bem convencional e linear, mas sim pela premissa que ele levanta: a falta de provas da existência do extermínio em massa dos judeus durante a Segunda Guerra. E, pior ainda: o roteiro é baseado num caso jurídico real.

Explicando: nos anos 90, a escritora e pesquisadora norte-americana Deborah E. Lipstadt (interpretada por Rachel Weisz) chamou publicamente de mentiroso e trapaceiro o pesquisador inglês David Irving (Timothy Spall), um notório defensor do conceito que o holocausto judeu seria uma farsa, e jamais teria existido. Irving decide então processar a escritora, que, para ganhar a causa, bastaria simplesmente comprovar a existência histórica do massacre. É neste ponto que o filme “Negação” assume contornos surpreendentes: os advogados de Deborah simplesmente não conseguem apresentar, diante de uma rígida corte britânica, provas concretas da existência do holocausto judeu. Como assim? E as milhares de fotos, testemunhas, filmes realizados na época, documentação secreta, confissões, etc etc etc? Respostas, só vendo o filme.

O fato é que a partir de um mote dos mais improváveis – ainda que baseado em fatos – “Negação” acaba se constituindo num altamente intrigante “filme de tribunal”, desvendando alguns dos obscuros caminhos do que se convencionou chamar Justiça, e mostrando a luta insana dos representantes da lei em tentar comprovar o que todos já julgavam mais do que comprovado. Ou, em outras palavras, uma prova de como esta tal de Justiça pode muitas vezes se reduzir a meros joguinhos de palavras de lógica discutível e resultados indizíveis.

A direção de “Negação” é do inglês Mick Jackson (o mesmo de “O Guarda-Costas”) e o elenco ainda traz Tom Wilkinson, o que quase sempre é garantia de qualidade.

A estreia é nesta quinta, 9 de março.