O SUSPENSE LIBERTÁRIO DE “CHRISTABEL”.

Por Celso Sabadin.

Como é bom ver a evolução de um profissional! Depois de “Jovens Polacas”, o diretor Alex Levy-Heller demonstra muito mais maturidade e segurança na direção de seu novo trabalho, “Christabel”. Trata-se de um suspense com toques de mistério adaptado livremente do inacabado poema homônimo escrito no século XVIII pelo britânico Samuel Taylor Coleridge.

No filme, a trama se passa em algum lugar perdido e isolado no meio do Brasil. É ali que a jovem Christabel (Milla Fernandez) encontra Geraldine (Lorena Castanheira), desesperada vítima de um assalto seguido de estupro. Christabel acolhe Geraldine em sua casa, onde vive com o pai, Leonel (Julio Adrião). E a partir daí o filme percorre a clássica narrativa da personagem libertária que vem de fora para desequilibrar (e/ou subverter) a situação vigente, até então retrato de uma estabilidade que se revelará falsa. Uma catalisadora de rupturas.
“Christabel” segue a linha introspectiva, reflexiva, dedicando largos e belos momentos ao processo de transformação interna da protagonista que dá nome ao filme. Sempre amparada por uma caprichadíssima fotografia, a câmera de Levy-Heller presenteia suas personagens com generosos closes e travellings que tanto as coloca em proximidade com a percepção do público, como as situa na vasta paisagem de Goiás, amplificadora das sensações de solidão, isolamento e até de abandono que regem os atos das duas protagonistas.

De uma forma geral, a direção se mostra mais acertada que o roteiro – escrito pelo diretor – que eventualmente se perde um pouco em digressões que acabam por travar o bom ritmo da narrativa. E também causa um certo estranhamento o sotaque urbanamente acariocado da protagonista, justamente a personagem mais isolada e mais rural do filme. Mas nada que tire o brilho de “Christabel” e dos vários prêmios e indicações que vem obtendo em festivais nacionais e internacionais. Entre eles, Chicago, Nápolis, Romênia, Petrópolis e Rio.
Estreia em 26 de fevereiro.