“O TEMPERO DA VIDA”, PORQUE A UTOPIA É NECESSÁRIA.

Por Celso Sabadin.

Para quem curte saborear produções de países, digamos, inusitados (eu gosto), que tal um filme realizado através de uma improvável coprodução entre China e Finlândia? A ser disponibilizado nesta quinta-feira, 10 de março, em plataforma virtual, “O Tempero da Vida” é uma simpática opção neste sentido.

O roteiro do finlandês Hannu Oravisto se inicia com a chegada do chinês Chang (Pak Hon Chu) e seu pequeno filho Niu Niu (boa estreia do garoto Lucas Hsuan) em um pequeno restaurante de beira de estrada, em algum lugar do interior da Finlândia. É o clássico tema do forasteiro num lugar estranho. Diferente do que geralmente acontece nos filmes, os recém-chegados não são hostilizados. Pelo contrário, são recebidos com cortesia por Sirkka (Anna-Maija Tuokko), a dona do restaurante, e por seus peculiares – e alguns divertidos – frequentadores.

Contudo, a estada de Chang e seu filho no lugar acaba inadvertidamente se prolongando por mais tempo que o previsto, abrindo espaço para o maior e mais amplo tema proposto pelo longa: a riqueza transformadora das diversidades culturais.

Afetividade, tolerância, curiosidade, acolhimento, todos os valores que deveriam nortear as relações entre os diferentes povos e diferentes nações aos poucos emergem com poesia e sensibilidade durante a trama. Sua simplicidade e despojamento tanto narrativa quanto temática me fizeram lembrar de outra produção envolvendo culturas orientais que tem feito sucesso atualmente pelo mundo: “A Felicidade das Pequenas Coisas”.

Utópico? Ilusório? Fora da realidade do mundo? Pode até ser. Mas reconfortante e gostoso de ver, principalmente nestas épocas difíceis em que vivemos.

O diretor finlandês Mika Kaurismäki tem grande afinidade com o Brasil: já morou aqui em várias oportunidades, e parte dos filmes que dirigiu e/ou produziu tem o país como tema. Como, por exemplo, as ficções “Amazon, o Filme” (1990) e “Filhas de Iemanjá” (1995), um segmento de “Bem-Vindo a São Paulo” (2004), e os documentários “Moro no Brasil” (2002) e “Brasileirinho – Grandes Encontros do Choro” (2005).

E uma última nota: na realidade, tal parceria Finlândia/China não é tão “improvável” como escrevi no começo do texto. Neste momento em que a China se prepara para ultrapassar os EUA e se tornar o maior mercado mundial do cinema, todos os países que – em pequena ou larga escala  – produzem filmes buscam formar algum tipo de parceria com o novo gigante que se avizinha.

“O Tempero da Vida” estará disponível em www.cinemavirtual.com.br a partir desta quinta-feira, 10/03.