O TIGRE E A NEVE

Histriônico e romântico de matar diabético, o ator, roteirista e diretor Roberto Benigni é amado e odiado. Há os que não suportam os seus arroubos farsescos que deslavadamente tentam imitar Charles Chaplin. E há os que creditam justamente a este escancaramento meloso boa parte de seu grande sucesso internacional.
No Brasil, há um motivo a mais para que Benigni tenha muitos desafetos: foi ele quem “roubou” o Oscar de Filme Estrangeiro do nosso “Central do Brasil”, em 1998. Aliás, seu filme mais recente, “O Tigre e a Neve”, tem uma estrutura narrativa bastante próxima ao premiado “A Vida é Bela”. Ambos começam como uma comédia romântica rasgada, viram o jogo na metade, e se transformam num drama de guerra onde o otimismo desmedido dá o tom. E ambos fazem uma leitura das mais simpáticas ao exército norte-americano, provavelmente para ganhar mais pontos na corrida pelo Oscar de Filme Estrangeiro.
“O Tigre e a Neve” fala da paixão exacerbada que o poeta e professor Attilio (Benigni) nutre por Vittoria (Nicoletta Braschi, esposa de Benigni na vida real e produtora do filme). Ele sonha com ela todas as noites, a persegue por todos os cantos, mas sem conseguir sua atenção. A platéia ainda não conhece, nesta altura do filme, o motivo de tanta paixão. Num repente, tudo muda. E o professor Attilio se vê obrigado a seguir para Bagdá (na realidade, locações na Tunísia enriquecidas com computação gráfica), em pleno início do conflito. Para preservar o roteiro, é melhor não dizer por que. É neste cenário de guerra que “O Tigre a Neve” se torna ainda mais parecido com “A Vida é Bela”, sempre na tentativa de vender uma idéia de otimismo extremo, onde todos os fatos negativos devem ser escondidos em função de uma dedicação inabalável á pessoa amada.
Piegas? Provavelmente. Melodramático? Com certeza. Mas Beningni é assim mesmo: para apreciar seu trabalho é preciso se abster de toda e qualquer teoria cinematográfica racional, e mergulhar na total passionalidade latina que o cineasta propõe. Não por acaso, ele repete a frase “eu sou italiano” inúmeras vezes durante o filme. Seus fãs vão amar. Mas só seus fãs….
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O Tigre e a Neve (La Tigre e La Neve). Itália, 2005. Direção de Roberto Benigni. Roteiro de Roberto Benigni e Vincenzo Cerami. Com Roberto Benigni, Nicoletta Braschi, Jean Reno. Participação de Tom Waits. Distribuição Europa.