“O ÚLTIMO CONCERTO” É UMA EXPLOSÃO DE TALENTOS.

A música como metáfora da vida costuma render belos filmes. “O Último Concerto” é mais que belo. É belíssimo, para usar este superlativo tão italiano e também tão identificado com o mundo musical.

O filme tem argumento, produção, direção e corroteiro de Yaron Zilberman, um estreante em longas de ficção que logo neste seu primeiro trabalho demonstra grande talento. A trama mostra um quarteto de cordas que comemora 25 anos de uma impecável carreira de fama internacional. No início do que seria uma nova temporada, porém, o violonista Peter (Christopher Walken) dá os primeiros sinais de que estaria com a doença de Parkinson. A realidade é inexorável: num prazo muito curto, ele terá de ser substituído, para o bem do grupo.

Percebe-se então que Peter era o verdadeiro esteio do quarteto, que começa a desmoronar diante da simples possibilidade de sua substituição. A partir daí, emergem com a força de um tsunami antigas mágoas, frustrações, ódios e traições que estavam sufocados há décadas. Mas a música não pode parar, e o quarteto de cordas, uma das mais sóbrias e introspectivas formas de apresentação da música erudita, tem de manter as aparências, a concentração e o refinamento, se quiser continuar a sobreviver.

Não bastasse a extrema elegância com a qual dirige seu filme, não bastasse o bem costurado roteiro que aos poucos tece uma forte trama de intrigas entre protagonistas e coadjuvantes, Zilberman ainda se mostra um talentoso diretor de atores, ao extrair interpretações memoráveis não só de Walken (impecável), como também de Catherine Keener, Mark Ivanir e de Philip Seymour Hoffman, neste que seria um de seus últimos trabalhos (o filme é de 2012).

Tudo emoldurado por uma charmosíssima Nova York invernal, e ao som de Beethoven, Haydn, Bach… Arrisco dizer: “O Último Concerto” é um dos melhores filmes que chegam aos nossos cinemas este ano.