“O ÚLTIMO LANCE”, ÓTIMA SURPRESA FINLANDESA.  

Por Celso Sabadin.

Muitas vezes, uma boa história muito bem contada é tudo o que a gente espera de um bom filme. É o caso de “O Último Lance”, ótima surpresa vinda da Finlândia para enriquecer um pouco o nosso pobre circuito exibidor enfraquecido pelos malefícios da monocultura estadunidense.

Com sobriedade e muita competência narrativa, “O Último Lance” mostra um mundo em extinção: o dos velhos comerciantes de artes, aqueles apaixonados pelo seu trabalho, que conhecem cada um de seus clientes, e sabem que a expressão artística é mais importante que as leis do mercado. Ou pelo menos deveria ser.

É neste contexto que Olavi, prestes a se aposentar, e sentindo-se sem energias para competir com o novo mundo dos negócios virtuais, enxerga o que pode ser a grande e última oportunidade de sua vida: a negociação de um quadro que supostamente está sendo vendido por um valor muito abaixo do que realmente poderia valer. A tentativa de comprá-lo barato e vendê-lo com grande lucro demandará, porém, toda uma logística de dissimulações, negociações e troca de informações que desembocarão inclusive num antigo resgate de valores familiares para o velho Olavi.

O ótimo roteiro de “O Último Lance” é o segundo desenvolvido por Anna Heinämaa (o primeiro foi para o filme “O Esgrimista”, com o mesmo diretor), autora que, além de roteirista e escritora de programas de rádio, também é artista plástica e escultora, o que lhe possibilitou a ácida visão do mundo artístico/mercadológico destilado no filme.

A direção é de Klaus Härö, nome pouco ou nada conhecido no mercado brasileiro (que prefere a monocultura cinematográfica), mas figura carimbada no circuito dos festivais internacionais, onde já foi largamente premiado.