“O ÚLTIMO MESTRE DO AR”: O FILME ATÉ AGRADA, MAS O 3D É PICARETAGEM.

O filme era para se chamar “Avatar”, mas James Cameron e a Fox chegaram primeiro e registraram o nome. O que não tem nada a ver com plágio. Este “O Último Mestre do Ar”, de M.Night Shyamalan, é a adaptação cinematográfica do desenho animado de televisão “Avatar: The Last Airbender” (exibido no Brasil apenas como “Avatar”), que teve quatro temporadas produzidas entre 2005 e 2008. Não há semelhança entre os filmes de Cameron e Shyamalan.

Em “O Último Mestre do Ar”, o mundo está em guerra, dividido entre quatro nações: Terra, Fogo, Água e Ar. Na Tribo das Águas, os jovens irmãos Sokka (Jackson Rathbone, o Jasper da trilogia “Crepúsculo”) e Katara (Nicola Peltz) fazem o que podem para arrumar comida num cenário desolado, onde o pai está fora, em batalha, e a mãe já morreu. Ao caminharem por uma fina camada de gelo, eles encontram uma grande esfera congelada, de onde retiram, inconscientes, um garoto chamado Aang (o expressivo Noah Ringer) e um gigantesco animal voador. Logo ficamos sabendo que Aang é um “Avatar”, ou seja, uma pessoa com a raríssima habilidade de controlar os quatro elementos da natureza, figura fundamental para unir as Nações em guerra e conseguir a paz. Sabendo disso, os beligerantes governantes da Nação do Fogo, justamente a que deu início à grande guerra, tentarão eliminar Aang de todas as maneiras.

Tem início assim um filme de proporções épicas (e orçamento idem, estimado em 150 milhões de dólares), com belas locações na Groenlândia e no Vietnã e – claro – caprichado na dose de efeitos especiais. Para o público infantil, a promessa de muita aventura e um show visual. Para o público adulto, a assinatura de M. Night Shyamalan, o excelente diretor de “O Sexto Sentido”, “Corpo Fechado”, “A Vila” e “A Dama na Água”, entre outros grandes filmes.

Os mais jovens certamente terão suas expectativas satisfeitas. O filme é visualmente atrativo, tem bom ritmo, e entrega o que promete. Já o cinéfilo que busca o estilo sempre surpreendente de Shyamalan certamente sairá decepcionado: “O Último Mestre do Ar” não traz, nem de longe, o talento narrativo, a criatividade e as sutilezas de direção e roteiro que sempre caracterizaram o cineasta indiano. Pelo contrário: o filme é dirigido com uma certa mão pesada, onde o medo de errar parece maior que a vontade de acertar. Percebe-se no roteiro aquele eterno cuidado de deixar tudo explicadinho verbalmente, várias vezes se for preciso, provavelmente temendo que o público não entenda algo da trama, subestimando desta forma a percepção da plateia, e valorizando o texto em detrimento da imagem, um dos grandes pecados de muitas produções de alto orçamento.

Exemplo: logo nos primeiros momentos do filme, o personagem da avó de Sokka e Katara explica detalhada e verbalmente aos seus netos a questão da existência e da importância dos Avatares. Coisa que um longo texto colocado bem na abertura já havia feito.

Da mesma forma, a música – repleta de percussões – é novamente insistente e onipresente, o que, neste caso, nem chega a ser tão incômodo como em outros filmes do gênero.

“O Último Mestre do Ar” é repleto de referências à cultura oriental. O conceito das reencarnações sucessivas do personagem principal, por exemplo, é uma clara alusão ao Budismo. Os Deuses, representados por peixes, recebem os nomes de Ying e Yang. Além do fato das lutas e batalhas serem regidas muito mais pelo ideal de Equilíbrio que propriamente pela simplista ideologia do Bem contra o Mal.

De uma forma geral, o filme agrada, mas não há nenhuma necessidade dele ser exibido em 3D. Nenhuma cena justifica o preço mais alto do ingresso. Assim como aconteceu em “Fúria de Titãs” e outros, “O Último Mestre do Ar” não foi produzido, mas apenas finalizado dentro deste sistema, o que acaba gerando – digamos assim – uma espécie de estelionato. Não é este o nome dado para quem cobra por uma coisa que não existe? Prefira as cópias simples, em 2D, mais baratas e com o mesmo efeito.

Confira o trailer: