“O ÚLTIMO ÔNIBUS”: DELICADEZA NA CONTRA MÃO DA TRUCULÊNCIA.

Por Celso Sabadin.

Logo nos primeiros minutos de “O Último Ônibus”, o espectador é brindado com uma breve, porém eficientíssima, cena na qual o diretor Gille MacKinnon filma uma ausência: enquanto lava a louça e ouve no rádio a previsão do tempo que anuncia ventos frios, o protagonista olha pela janela de sua cozinha e vê sua esposa cuidando do jardim. Mergulha as mãos na água da pia e, quando olha novamente, percebemos que décadas se passaram naqueles três segundos. A esposa não está mais lá. O jardim permanece, varrido pelos ventos prometidos pela meteorologia. Uma aula de cinema e sensibilidade que dura poucos segundos (e não é spoiler).

A partir desta cena, comecei a chorar e não parei mais. O filme todo? Não: a semana toda. Talvez o mês. Só de descrever a cena já me dá vontade outra vez. Assim é “O Último Ônibus”, filme que não vai mudar a história do cinema, que não tem a menor pretensão de ser imprevisível, mas que já entrou na minha lista de melhores do ano (e ainda estamos em junho), pela delicadeza que cuidadosamente exala em todos os seus pormenores.

O roteiro de Joe Ainsworth mostra Tom (Timothy Spall, o conhecido Pete Pettigrew da série Harry Potter), um nonagenário que planeja minuciosamente a viagem de ônibus que pretende empreender do extremo norte da Escócia ao extremo sul da Inglaterra. Por que e para quê? Só vendo o filme.

Durante este road movie da terceira idade, as informações são passadas ao púbico sem pressa, aos poucos, sem a ansiedade dos tempos atuais, com a coerência de quem a protagoniza. E é aos poucos também que a plateia vai se apaixonando por Tom, vibrando com suas pequenas vitórias, e temendo pelos contratempos que fatalmente surgirão na empreitada.

Como dizem, a questão maior não é a chegada, mas a jornada.

 

Emotivo, encantador e – sim – às vezes flertando com o cafona, por que não? – “O Último Ônibus” trafega deliciosamente na contramão da truculência e da violência de muitas produções atuais, configurando-se num oásis cinematográfico de poesia e suavidade que faz bem à alma.  Tudo isso emoldurado pelas belas paisagens das ilhas britânicas.

 

Precisa mais?

 

A estreia é nesta quinta, 01 de junho.