“O VIDENTE” É PASSATEMPO ÁGIL E EFICIENTE

Os contos e livros de autoria de escritor Phillip K. Dick (1928-1982) já renderam marcantes adaptações cinematográficas, como ”Blade Runner”, “O Vingador do Futuro”, “Minority Report – A Nova Lei” e “O Homem Duplo”. Geralmente são textos que unem fantasia, ficção científica e ação policial, ou seja, matéria prima de ótima qualidade para um bom filme comercial.
Agora, os produtores de Hollywood (entre eles o próprio Nicolas Cage) foram atrás de um romance de Dick que ainda não havia sido filmado, e descobriram “The Golden Man”. O resultado é o filme “O Vidente”, sobre um homem que consegue antever o seu próprio futuro em apenas alguns minutos. O que não é exatamente uma novidade, pois já avia sido base para um episódio do seriado “Além da Imaginação” há mais ou menos meio século. Porém, como nada se cria, nada se perde, e tudo se refilma, por que não?
Em “O Vidente”, o personagem principal (Cage) usa o nome artístico de Frank Cadillac para protagonizar um pequeno show de magia com o qual ganha a vida modestamente em Las Vegas. Nas horas vagas, usa o seu dom para aumentar a renda através de pequenas apostas em cassinos. Nada que chame a atenção. Frank é um sujeito “low profile”, e assim como muitos “dotados”, é um homem amargurado com o seu próprio talento. Uma visão, porém, lhe tira o sono: mesmo sabendo que ele só consegue ver o futuro em poucos minutos, ele sabe que um dia qualquer, numa hora determinada, uma bela loira entrará em sua vida. A “visão”, no caso, é vivida por Jessica Biel, novamente às voltas com um mágico, após o sucesso de “O Ilusionista”.
A ação propriamente dita começa quando Frank é procurado pelo FBI para uma missão das mais importantes: usar o seu dom para tentar localizar uma bomba atômica que poderá explodir a qualquer momento em território americano. Incrível! Entra ano, sai ano, os americanos continuam com a paranóia nuclear. E os vilões desta vez falam francês! Porém, o discreto e amargurado Frank não está disposto a colaborar com o Governo, que por sua vez tem métodos bem convincentes para fazê-lo cooperar.
Apesar de baseado num livro de Phillip Dick, a proposta de “O Vidente” é ser, assumidamente, um filme de ação policial. Tanto que foi chamado para a direção o cineasta Lee Tamahori, conhecido por aventuras como “007 — Um Novo Dia Para Morrer”, “Triplo X” e “Estado de Emergência”, entre outros. Há, sim, uma leve pitada de fantasia e ficção científica, mas o sabor principal é mesmo formado pelas fórmulas que regem tudo aquilo que se espera de um filme de ação. Tamahori também não se esqueceu do humor, extraindo de Cage alguns momentos divertidos, já que o personagem, em situações extremas, tem sempre alguns minutos de vantagem sobre os demais. Há espaço até para duas referências – no mínimo sarcásticas – à obra de Stanley Kubrick: a primeira é uma cena importante que acontece enquanto a televisão mostra o filme “Doutor Fantástico”, cujo tema também é a explosão de uma bomba nuclear. E a segunda, mais evidente, é quando a agente do FBI (Julianne Moore) tentar forçar a colaboração de Frank utilizando um “abridor de olhos” semelhante ao que foi imortalizado em “Laranja Mecânica”.
São detalhes interessantes, mas que certamente não farão de “O Vidente” um filme memorável. Trata-se apenas de um bom passatempo, ágil, eficiente, e com um final que pode surpreender. Repare também na participação especial de Peter Falk, o eterno “Detetive Columbo”, atualmente aos 80 anos de idade.
O filme fracassou nas bilheterias americanas, faturando apenas 25% dos US$ 70 milhões de seus custos estimados. Não era para tanto. Talvez a recuperação venha através do DVD, quando for lançado.